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O Nome Esperantinópolis
“A incontrolável imigração destes últimos
anos, determinadas pelas secas do Nordeste, aumentou consideravelmente a
demografia desta zona do Mearim e levou o Governo do Maranhão à constituição do
novo Município de Boa Esperança, trocado
este nome pelo de Esperantinópolis e o de vila pelo de cidade”.
Metódio de Nembro,
o.f.m.cap.
São José de Grajaú
primeira Prelazia do
Maranhão
A notícia de que éramos, não
mais vila de Boa Esperança, mas Cidade, nos veio com a tranqüilidade do seu
mensageiro, o então Gerente da firma Chames Aboud & Cia. Ltda. em Verdun, o
nosso ilustre Osiel Miranda. Via telefone ele recebeu para todos nós o
telegrama.
Que nos trouxe numa manhã do
início do mês de maio de 1954.
Na oficina de sapataria de
meu irmão Aluísio Carneiro Corrêa estavam uns dos seus clientes e amigos a
bater papo e eu, que esperava o almoço que minha mãe Maria José Carneiro
preparava para que o levasse à roça em início da colheita do arroz, Seu Osiel
nos apareceu, vindo no trote de bons arreios de uma burrinha cardã, parou, por
nos ver, e após as saudações dos bons-dias, sorrisos, convites a apear-se o
cavaleiro, aí sim, ele nos passou a notícia:
“Boa Esperança do Mearim agora
é cidade, passou a Cidade. O Governador Eugênio Barros, no dia 27 de abril
último, assinou a lei da criação do Município com o nome de Esperantinópolis”.
Verdade?!
Verdade! E agora!... A gente
parecia se perguntar, como quando algo muito sério acontece em conseqüência de
uma brincadeira. Sério, sim! Cidade, sim!
E aí?! Cadê a rua, a praça,
o prédio para a Prefeitura e a Câmara, onde a cadeia... De outros prédios, como
para mais escolas, os correios, o hospital... Pois é verdade!
Esperantinópolis, neste seu início de
Município, não tinha uma aparência urbana, era uma estrada habitada.
E o nome!... Como o
pronunciar?!
Seu Osielno-lo ensinou,
soletrando mesmo. Dei-o, poucas horas após, como notícia a meu pai, Severino
Corrêa, e aos trabalhadores que, com ele, colhiam o nosso arroz.
Como em sua lírica
soberania, Ana Neris Góis nos diz que “O Bem unifica, totaliza”, o nome nos
uniu numa soma em total confiança a nos dar a explicação do porque colhíamos o
arroz, um nome, como o nome de Esperantinópolis a carregar a nós no cofo do
trabalho que tece a história que “transcende, prevalece”, ainda nos diz a
poetisa.
Como se formou o Município
A democracia, após 1945, não
encontrou espaço em terras do interior do Maranhão. Os entusiasmos com a
redemocratização foi o plantio sufocado pelo autoritarismo de uma política de
governo a se reimplantar numa oligarquia de coronéis sob o comando do então
Senador Victorino de Brito Freire. Apesar das resistências da população da
capital São Luís, tornada na “ilha rebelde”, porém confinada dentro só dos
limites da linda Upaon-Açu.
Eleições eram brincadeiras.
Seus resultados, antecipadamente, anunciados. Candidato eleito, só dos ungidos
do poder da oligarquia, porque com o voto de cabresto, com a fraude eleitoral,
com a conivência do poder judiciário, era um jogo de cartas marcadas.
Assim era o Maranhão, quando
o comerciante João Ângelo Batista, dono de vastas áreas de terras na região da
margem direita do rio Mearim, partindo seus domínios do povoado Axixá,
projetou-se como o autor da proposta da criação do Município com sede a ser
criada na Vila de Boa Esperança.
Obteve, sim, o apoio do
líder maior do Estado, o Senador Victorino Freire, após o que, o encaminhou à
Assembleia Legislativa por meio do Deputado Jefferson Rodrigues Moreira, por
ter este fortes ligações familiares e políticas com Barra do Corda. Barra do
Corda sob a administração do Prefeito Manoel de Melo Milhomem que já se
indispunha politicamente ao contrário do Deputado Jefferson Rodrigues Moreira,
o que escreveu nosso nome de Esperantinópolis.
O Prefeito Manoel de Melo
Milhomem não optou por prejudicar a tramitação do projeto do novo Município,
porém determinou que o seu território se limitasse à margem esquerda do rio
Mearim.
Na margem direita se
desenvolvia uma questão fundiária entre João Ângelo Batista, o proprietário da
terra, e o posseiro José Maria Martins Jorge, que contestava suas posses.
Segundo ilustre jurista,
filho adotivo do casal Joaquim Araújo Arruda e Dona Cotinha Sá Arruda, menino
criado em Boa Esperança, formado jovem em Direito, Promotor Público da Comarca
de Pedreiras, onde veio a falecer, Dr. Ary Sá, em um trabalho literário,
“Província dos Coroneis” – 1965, afirma que o Maranhão se constituía, em sua
época, uma soma de grandes latifúndios. Para isto havia a indústria do
latifúndio que agia “da seguinte forma: o coronel caboclo adquire uma vasta
área de terras através de usucapião ilegal, fabricado por alguns advogados, escrivães
e juízes desonestos”.
E como o estado, nas
mentalidades dos coronéis, só existia para lhes favorecer, as suas terras
devolutas poderiam ser tomadas dos seus lavradores por ações de usucapião
ilegais e tornadas propriedades por sentenças judiciais irrevogáveis,
inquestionáveis pelos nós jurídicos dados e feitas escrituras do “para
sempreamém”, isto que ouvi um dia um escrivão a dizer.
De João Ângelo Batista,
porém, guardamos a memória com a gratidão pelo grande bem que nos proporcionou.
Seu projeto nos concedeu a Cidade do nosso amor, da nossa vida, do nosso
trabalho, da nossa esperança.
O Dia da Cidade
A comemoração do ser Cidade
de Esperantinópolis, a alegria vestido de seda das senhoras, roupa nova das
crianças, brilhantina coty em meus cabelos, terno e gravata dos senhores, com
um porquê solene, foi o primeiro Dia da Cidade que ocorreu a 27 de junho de
1954.
Quando estava presente o Dr.
Regino de Carvalho, Juiz de Direito da Comarca de Pedreiras, especialmente
designado pelo Tribunal de Justiça do Estado, para, ao lado do Deputado
Jefferson Rodrigues Moreira, presidir a sessão solene de instalação do
Município de Esperantinópolis criado pela Lei Estadual nº 1.139, de 27 de abril
de 1954. Lavrou a Ata o Escrivão João Pinto Neto, em que consta a posse do
Prefeito Interino, nomeado por ato do Governador do Estado, o Senhor Antonio
Leal Arraes.
O local onde se instalou a
Prefeitura Municipal foi um prédio rústico, de um armazém, de propriedade do
Prefeito Antonio Leal Arraes, cedido para o ato, e onde se fez a beleza de
enfeites naturais com a matéria-prima do babaçu que se deu em palmas aos arcos,
arranjos e o mais que a imaginação em artes pode compor.
Ouvi atento aos discursos
proferidos. Palavras, gestos, gravando os vocábulos que a oratória produz,
quantos novos, como efemérides, que esperei uns dias até que meu irmão Anísio
Carneiro Corrêa conseguisse com seu padrinho Antonio Ribeiro Lopes um
Dicionário onde a encontrei e que me falou tanto da minha vocação ao escrever,
registrar os atos e fatos pelos quais se contariam a história de
Esperantinópolis.
É que, até aqui, cem anos
após o olhar de descoberta do nosso desbravador Cândido Mendes da Silva, há uma
semente de vida da qual me sinto geneticamente ligado, deslumbrado,
vocacionado. E, feliz! Muito feliz, quando as crianças, os jovens, os
educadores a mim recorrem e eu lhes conto pontos desta história em que nascem
todas as nossas fontes.
Pois, ao voltarmos da festa,
tivemos uma tarde de muitas conversas e à noite foi o baile, no salão da
escola, com música de sanfona, banjo, cavaquinho e uma rabeca do conjunto do
sanfoneiro Raimundo Honório, a festa que uma noite fez para dizer-se o nome de
Esperantinópolis, cidade-abraço-esperança. Difícil pronúncia para um povo
analfabeto, mas aprendizado de amor a dizer e a se fazer e a se amar no dia
seguinte ao da festa, do primeiro dia de trabalho da nova cidade.
Desafios
A maioridade, a liberdade, a
cidadania são desafios. Nosso povoado tornou-se cidade, eis o desafio do poder
ser, de se fazer, se formar, construir-se, ser por si mesma.
Faltava tudo. Recurso
financeiro nenhum, só a boa vontade a procurar meios, inspiração, poder de
fazer, por ganhar rosto, dizer-se presente com uma boa auto-estima no contexto
político, social, econômico, cultural do conjunto dos Municípios Maranhenses.
Nossos líderes reuniram-se,
escolheram onde construir a Cidade, sendo o lugar abençoado pelo Bispo Prelado
de Grajaú, Dom Emiliano José Lonati, no dia 30 de julho de 1954, marcando assim
o encerramento de santas missões pregadas com uma grande participação de fieis.
Ainda neste mesmo ano, 25 de dezembro de 1954, Dom Emiliano José Lonati funda a
Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima em Esperantinópolis, nomeando
pároco o capuchinho Frei Cosme de Borno que chegou a tomar posse da Paróquia no
ano seguinte e acompanhado de Frei Raimundo Vale.
Houve as eleições municipais
a 3 de outubro de 1954. O novo Prefeito Genésio Carvalho Serra, ao empossar-se
com a primeira Câmara de Vereadores, empreendeu a custosa e difícil tarefa de
fazer a cidade a se construir em um centro urbano. Graças à força atrativa da
presença dos frades capuchinhos que demoliram a capela de Santa Teresinha e
construíram uma outra igrejinha de taipa onde é hoje o Hospital Municipal Santa
Marta, com os ofícios religiosos celebrados diariamente, também com o
motor-de-luz que iluminava a Rua Sete de Setembro, então o centro da cidade,
formando o quarteirão com as Ruas Claúdio Carneiro, Getúlio Vargas e Três de
Agosto, então se formou um espírito de coletividade em mutirões que construía a
igreja, abria estradas, transportava doentes, fazia o transporte de materiais e
mercadorias do porto de Verdun, viu-se a força de um povo por querer-se a si
mesmo em cidadania.
Os padres assumiram a
educação, a assistência social, os serviços de saúde. A Prefeitura os apoiava,
o povo participava, a cidade ganhou uma fisionomia religiosa. A vida social,
civil, econômica se fez ao redor da igreja, em horários que o sino determinava,
em condições que a catequese permitia.
Cinzas de Bagaceira
A economia do Município de
Esperantinópolis, no ano de sua emancipação, já sentia o declínio da produção
canavieira, a desativação de alguns engenhos, dada, um dos fatores que
concorreram para isso, a concorrência de produtos nordestinos que, via
rodoviária, chegavam com preços mais baixos e de melhor qualidade. O nosso
açúcar mascavo foi logo deixado de lado, trocado pelo açúcar alvo, refinado,
também nossa rapadura e a nossa boa cachaça, esta também encarecida em muito
pelos impostos de que lhe cobrava o coletor Federal de Barra do Corda,
inviabilizando a produção, visto que os nossos empreendedores não optaram por
se estabelecerem com registros de empresas de indústria, de comércio. Na
informalidade em que permaneciam, resolveram apagar o fogo dos alambiques, da
bagaceira, a se inscreverem no fisco.
Via-se, então, o fim dos
engenhos, os canaviais cedendo-se às soltas de gado que, por essa década dos
anos de 1950, já se começava a criar para a produção local do leite e da carne,
muito pouca ainda no açougue.
E os engenhos!... Das
ruidosas madrugadas... Por que se acabaram... Antonio Calixto, ex-moedor,
destilador, disse: “Porque os engenhos eram de pau.”
Verdade! Máquinas de vida
verde, não chegaram à idade industrial do ferro e aço. Não deram os lucros
devidos à formalização de engenhos-empresas a garantir movimentação contábil e
fiscal característica de uma economia com possibilidades de permanência por um
tempo bem maior. Tornaram-se cinzas do tempo.
O caminhão continuou a
trazer-nos mais nordestinos, força de trabalho que optou pelas roças de arroz e
mais o sonho fazenda de criação da vaca. Tomar terras, brigar, matar, morrer
pela terra, grilar, por ser da terra donos, porque traziam consigo o som chocalho
da vaca por perdidas campinas, vaca nordestina por ser também do Maranhão do
Mearim, marca de confusos latifúndios.
Mas a nossa memória guardou
o som moagem rangido que gerou a Cidade bem onde era o canavial do sertanejo de
São Raimundo das Mangabeiras, Martinho Gregório Granjeiro, a Cidade de
Esperantinópolis, num ano encruzilhada da história em que os restantes poucos
engenhos morriam e se apagavam em cinzas os bagaços da última moagem.
A Economia do Arroz
A terra de Esperantinópolis
tornou-se de grande produtividade de arroz que se somou ao algodão, o milho, o
feijão a mandioca e mais do coco babaçu.
Era nossa riqueza a força de
tantos homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras rurais a expandir o
nosso território municipal integrante da fronteira agrícola em que se fazia a
região do Médio Mearim.
Exportávamos todos os
excessos do consumo, o que possibilitou aberturas de estradas, desenvolvimento
do comércio e a instalação da primeira máquina de beneficiamento de arroz,
trazida por Gustavo Furtado Leite que a transferiu, no final dos anos de 1950,
para Orlando Ribeiro.
Ah! Sim! Aliviou-nos os
braços da mão-de-pilão. A usina de pilar o arroz foi uma libertação do trabalho
pesado a que, mais, as crianças e as mulheres faziam, o arroz pilado no pilão, de
preferência às madrugadas. Tun-tun que se ouvia, coração-vida-obrigação do
decomer de cada-dia.
As roças de arroz se
expandiam, formavam povoações enquanto o plantio do algodão deixava de ser do
interesse da economia. Porque a usina dos Aboud, de Verdun, por obsoleta estar
a sua tecnologia de mecanismos de produção, e por mais não interessar o negócio
do algodão no mercado interno maranhense, por fechamentos de fábricas de
tecidos, e nem para exportação.
Ficamos só com o arroz e por
termos ainda muitas terras sob as matas virgens e que ninguém se dava conta do
mal que se fazia nas imensas derrubadas que os incêndios destruíam
ano-após-ano. Mas era o arroz o nosso ouro.
Foi o arroz que deu cor e
poder à economia de Esperantinópolis por se afirmar numa prosperidade que nos
garantiu, como Município, a autonomia e, como cidade, a força para a nossa
construção própria, com as marcas de nossas mãos de povo a se formar e a se
garantir com a auto-estima de sermos sempre Cidade da Esperança.
Acontecimentos
27 de abril de 1954
- O Governador Eugênio Barros sanciona a Lei
nº1.139, de 27 de abril de 1954, que cria o Município de Esperantinópolis,
desmembrado do de Barra do Corda.
27 de junho de 1954
- Solene ato de instalação do Município de
Esperantinópolis presidido pelo Juiz de Direito da Comarca de Pedreiras, Dr.
Regino de Carvalho, e que deu posse ao Prefeito Interino Antonio Leal Arraes.
30 de julho de 1954
- Solene procissão presidida pelo Bispo Dom
Emiliano José Lonati, da Prelazia de Grajaú, que abençoou o local para a
construção da Cidade de Esperantinópolis............na época compreendendo uma
área de 9 quarteirões entre as atuais Rua Osiel Miranda, ao Leste, e 7 de
Setembro, a Oeste; Vitorino Freire, ao Norte, e 3 de agosto, ao Sul.
03 de agosto de 1954
- Mutirão de líderes, à
frente o Prefeito Antonio Arraes, demarcou as primeiras ruas onde havia de se
construir o centro urbano de Esperantinópolis.
25 de dezembro de 1954
- O Bispo Dom Emiliano José Lonati assina o
Decreto de criação da Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima com sede
na Cidade de Esperantinópolis.
31 de janeiro de 1955
- Posse do Prefeito Genésio Carvalho Serra e
do Vice-Prefeito Benjamim Soares Paraibano
- Posse da Câmara de Vereadores que elegeu
seu primeiro Presidente o Vereador Cláudio Carneiro de Souza, sendo Prefeito,
Vice-Prefeito e Vereadores eleitos na primeira eleição municipal realizada a 3
de outubro de 1954.
15 de agosto de 1955
- Solene encerramento do primeiro Festejo da
Padroeira, com procissão nas ruas recentemente abertas à espera de seus
primeiros moradores.
02 de janeiro de 1956
- Abertura da Escola Paroquial Pio XII, sob a
docência da Professora Normalista Odila Feitosa, em prédio municipal cedido
pelo Prefeito Genésio Carvalho Serra.
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