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Início dos Anos Sessenta
“Como uma capitania hereditária, um feudo, onde tudo – o
crédito bancário, a prioridade de transporte, as sentenças judiciárias, a
hospitalização de doentes, as eleições, a destinação de verbas para paróquias,
os empregos – dependia da vontade e dos humores do ocupante do poder. Coube ao
PSD, caldo de cultura desseneofeudalismo, assegurar-lhe as condições para um
longo reinado no Maranhão”.
Neiva
Moreira
O Pilão da Madrugada
Era o Maranhão do vitorinismo.
Época de uma oligarquia
baseada no interior do estado, onde um contexto de atrasos fechava
possibilidades de desenvolvimento educacional, político, econômico, cultural.
Onde a oposição não tinha voz e nem vez.
Esperantinópolis, assim,
tinha as suas divergências políticas, mas acomodadas dentro do mesmo
vitorinismo do PSD – Partido Social Democrático, e mais siglas de outros
partidos que davam as acomodações necessárias às lutas internas pelo poder de
estar à sombra da situação governista.
Em 1960, a luta política no
Município se dava entre dois grupos antagônicos, o do Prefeito Osiel Miranda,
combatido pelo grupo liderado por Cláudio Carneiro de Souza.
De lutas assim alimentava-se
a oligarquia a distribuir pequenas parcelas de poder, favores, e, mais por
viabilizar as fraudes eleitorais que garantiam a sua permanência no governo.
Esperanças?!
A esperança acendia
momentos. No dia 3 de outubro de 1962, dia de eleições, eu convocado fora para
exercer a função de Primeiro Secretário da Sessão Eleitoral em que eu votava.
Presenciei um ato ilícito praticado por um vitorinista a ensinar uma eleitora a
votar em seu padrinho candidato a Senador, Victorino Freire, exibindo-lhe um
cartaz com o modelo do voto em cédula eleitoral.
Não me contive e protestei
com indignação.
Ganhei. O ilustre senhor
vitorinista, guardou no bolso o seu cartaz, bateu levemente no meu ombro, com
um sorriso de desdém, retirou-se da sala, recinto da sessão eleitoral. E não
voltou mais.
Dessa eleição de 1962, em
Esperantinópolis, todas as urnas foram violadas, anuladas.
Mas um começo para mim.
Ganhei consciência política daí para a frente, a aprender mais, a conhecer
mais, a me comprometer mais, ser mais presença e a propor a mim mesmo um
projeto de luta que me trouxe até aqui.
Mapa Rodoviário
Coube ao Prefeito Osiel
Miranda desenhar o mapa rodoviário do Município de Esperantinópolis,
expandindo-o ao ligar os maiores povoados à estrada que cortou o interior
rural, da Cidade até o povoado de Monte Castelo, no sentido Norte – Sul. E para
o Leste, ligando Palmeiral – Bom Princípio, e a Oeste, chegando ao Jiquiri e
outros povoados.
Era o arroz o principal
produto de nossa economia. O arroz, e mais o babaçu e madeiras. A floresta
caindo e se dando em pequena parcela de aproveitamento, das denominadas
madeiras-de-lei, o ipê, a massaranduba, o cedro, o pau-santo, para as
construções de casas, currais, móveis, cercas das fazendas, enquanto a nossa
paisagem verde se desaparecia na agressividade de um sistema econômico
destruidor, voraz de recursos naturais.
E a gente não via o que se
estava fazendo.
Heróis eram os nossos
lavradores que derrubavam as maiores áreas possíveis de mata, e, de maio a
junho, colhiam toneladas a mais de arroz, arroz que o caminhão pegava,
carregava e a pobreza do lavrador continuava, obrigando-o a derrubar mais mata.
Uma década de um
desenvolvimento acelerado por destruir e não deixava nada. As grandes safras
nos iludiam de que éramos ricos. Mas ricos, sim, éramos, porém servos de uma
máquina de ganâncias insaciáveis a nos tomar tudo, a terra, a flora, a fauna, o
suor, a saúde, a água porque começou por estes anos o assoreamento e as
poluições do nosso rio Mearim. Também década do início dos conflitos
fundiários, da luta do boi e do homem, o boi tomando a terra ao homem, camponês
desassistido de políticas públicas de educação, saúde, assistência técnica em
suas atividades de produção e sem o reconhecimento de seus direitos de possuir
a terra de seu trabalho.
A terra, maltratada
anualmente pelo fogo, da agricultura extensiva, foi se entregando aos capinzais.
O lavrador seguia à frente e novos centros de povoamento se faziam. Pois nessa
década se formaram todos os povoados da zona rural.
Claras e Franciscos
O capuchinho Frei Simeão de
Levate construiu o convento dos frades, o salão paroquial, que serviu de igreja
por mais de dez anos, e o convento educandário das irmãs capuchinhas que
chegaram em Esperantinópolis no dia 1º de março de 1960.
Eram cinco irmãs, Irmã Madre
Odila, Superiora, Irmã Eucaris e Irmã Basília, educadoras, Irmã Rufina,
enfermeira, e Irmã Pudenciana, música.
A cidade as recebeu a subir
de lancha e a apontar no povoado Palmeiral, de lá vindo com um grande
acompanhamento de cavaleiros e amazonas pela estrada em difícil transito por
causa das muitas chuvas da época.
E aqui fundaram o
Educandário Santa Rosa de Viterbo com internato para meninas, mas aulas com
classes mistas de meninas e meninos. Esperantinópolis tornou-se centro
educacional de referência que se fez de ensino de um bom curso primário que
chegou a ser o Ginásio Bandeirante, em 15 de março de 1968. Fizeram as irmãs as
ações por se continuar a construir uma história da educação esperantinopense.
E a cidade assim se
construía aos sons dos sinos. Eram os sinos o relógio da vida a se movimentar
de acordo a religião que irmãs de Clara e freis de Francisco se tornavam marcas
vigorosas de uma ordem que moldava a família, o trabalho, a política, tudo a
depender do conselho, do parecer, do apoio da igreja, porque, mesmo, cabia à
igreja, nas pessoas dos freis e das irmãs, o que se tinha de bom na época, dada
a ausência do estado em omissão de provedor dos bens e serviços que lhe cabe
com a promoção do bem comum.
Marcas franciscanas que
ficaram indeléveis em nossa formação não só religiosa, mas de vida social,
moral, da cidade, que era tão perdida no interior, longe de tudo, sem estradas,
sem correios, sem telégrafos, sem jornais, sem médicos, mas com as mãos
seráficas que acolhiam a todos. Uma boa palavra, uma orientação para todos, um
peito de amigo e amiga para quem carecesse e lhes procurasse. Os franciscanos,
freis e irmãs, foram um grande bem para a formação de Esperantinópolis.
Palmeira Babaçu
Foi pelos anos da década de
1960 que ganhou importância econômica o extrativismo do babaçu, como a
substituir o algodão e a cana-de-açucar. Nos vales de entre os verdes montes,
serras, de Esperantinópolis a palmeira, a que Gonçalves Dias nos deu, floresce
em compactos palmeirais à margem do rio Mearim e até uns vinte quilômetros para
o Oeste.
Nosso amor pela palmeira se
expressa em nossas moradias, esteiras de descansos, leite tempero de nossa
alimentação, cheiro-desejo-esperança, amor e a dança. “Da natureza o coco é
dança”, canta conosco Graça Lima em cantoria de felicidades na festa do
cinqüentenário de Esperantinópolis.
São as mulheres que dão, em
maioria, a mão-de-obra da coleta e da quebra do coco. E que enfrentam
conflitos, nem sempre bem resolvidos. Se o entendimento da negociação não
resolve, às vezes, a intolerância acontece como parte de uma luta de entre o
capital do agro-negócio e trabalhadoras sofridas, mães, mulheres que se armam
do machado e do cacete e avançam sobre as cercas protagonizando o cruel embate
entre a fome e o pouco pão.
É a realidade mundo em
destruição de seus bens naturais. E as palmeiras, entre nós, como o rio Mearim
que está morrendo, as florestas que já foram devastadas, a fauna em extinção,
também aos palmeirais se condenam à pena de morte. Pelo corte das palmeiras
produtivas, pela aplicação de herbicidas nos pindovais.
Os movimentos sociais
ligados aos trabalhadores e trabalhadoras rurais fazem a frente da organização
por conquistar cadeiras nos parlamentos, mobilizar a opinião pública à causa,
proposição de projetos e de legislações, como a Lei do Babaçu Livre, avanços
por uma humanização que assegure direitos que nossa história vai a registrar
ano, após ano, da força inteligência construção de uma sociedade da paz.
Paz que se concretiza como
associação de quebradeiras de coco, cooperativa, projetos realizados de
indústrias de extração de produtos do coco babaçu, óleo, mesocarpo, carvão e
tantos mais bens de uma atividade de muitas e possíveis oportunidades de
trabalho e de geração de riquezas.
Em nossas escolas as
crianças também cantam “nas palmeiras, harpas vírides” da letra do Hino de
Esperantinópolis, que sejam vozes de um coro-escola a abrir portas de ingresso
na sociedade do conhecimento que, seja poder de nossa ciência.
O Golpe Militar
A princípio, ninguém
pressentia que algo pudesse mudar no Maranhão com o movimento militar de 1º de
abril de 1964.
A repressão bateu forte
contra representantes das oposições coligadas, como a que ocorreu com o
Deputado Neiva Moreira, com o seu Jornal do Povo, fechado, incendiado, sofrendo
ele prisão e, depois, o exílio. Veio o silêncio amedrontador que fez a
dispersão dos que ainda tentavam se manter numa oposição ao regime.
Mas, “quem deve, paga”, diz
o provérbio popular, isto aconteceu.
O vitorinismo caiu na
desgraça do governo do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco que buscou o
apoio de remanescentes do grupo das oposições coligadas para eleger José Sarney
a Governador do Estado nas eleições de 1965.
Victorino Freire e o
Governador Newton Belo desintendem-se, enfraquecendo-se ambos e, mais, quando a
revisão eleitoral mostrava os milhares de eleitores fantasmas com que as
eleições se faziam e satisfaziam os desejos dos oligarcas.
Assim, ex-combatentes das
outrora Oposições Coligadas, ClodomirMillet, Henrique de La Rocque, Bandeira
Tribuzi e outros assumiram-se na luta pró-candidatura José Sarney. Nós, de
Esperantinópolis, entramos também nessa ao lado de Olímpio Carneiro Leite,
candidato a Prefeito Municipal.
Aconteceu a vitória, de José
Sarney e de Olímpio Leite. E eis-me, eu, no ano seguinte candidato e eleito
Vereador e participante do governo que a si deu o nome de “Maranhão Novo”,
slogan que Glauber Rocha, também empolgado pela virada política que marcou o
fim do vitorinismo no Maranhão, com sua câmera e suas geniais idéias
documentou, registrando nossos entusiasmos com a democracia em construção de
uma nova realidade para o nosso estado.
Eu também escrevi, obtive
espaço em jornal, graças à apresentação que fez de mim o nosso Deputado Artur
Teixeira de Carvalho. Escrevi louvações ao “Maranhão Novo”.
Não esperava, no entanto, não
acreditava que estivesse a se formar, de novo, no meu Maranhão mais uma
oligarquia a partir de 1970.
Inaugurações
Uma praça é um abraço da
cidade com seu povo.
Esperantinópolis tornou-se
festiva ao inaugurar a sua Praça Galdino Carneiro, construída pelo Prefeito
Olímpio Carneiro Leite. E numa mesma ocasião, com a entrega ao povo do prédio
do Mercado Municipal, calçamentos de ruas, prédios escolares, do Centro de
Ensino João Almeida, na área urbana, e escolas rurais, a fundação do Ginásio
Bandeirante, a instalação da Comarca, a abertura da Agência dos Correios,
dando-nos um ritmo de realizações por que tanto aspirávamos.
A festa que reunia a todos
em apoio político ao Governador José Sarney, com a quase unanimidade dos
maranhenses, em todos os Municípios. Porque se via acontecer mesmo, muito de
novo a mudar a administração pública, havia entusiasmo e era mesmo de verdade o
que se fazia para se ver.
Talvez daí, não posso
opinar, mas pode ter sido, desse apoio popular quase total, que tenha daí surgido
o que se deu em uma outra oligarquia, que não perde tanto para a que se findou
em 1965.
Ao fim da década, o regime
militar fechado na ditadura do Ato Institucional nº 5, sem eleições diretas
para Presidente da República, nem de Governadores de Estado e com a instituição
dos Senadores biônicos, das nomeações dos Prefeitos, das capitais e a repressão
violenta aos opositores, a censura, prisões, torturas, desaparecimentos,
expatriações, formou, tudo isto e muito mais, a tentação de não mais a se
querer a democracia pelos que faziam o governo do estado no pós 1970.
Neste início de Século XXI,
o resultado é o Maranhão do analfabetismo, mortalidade infantil, pouco
desempenho educacional, miséria econômica, emigração para outros estados, quase
nenhum saneamento básico. Porque a democracia não voltou para o Maranhão com a
redemocratização do fim da ditadura. Mas a esperança ainda é a canção dos
pescadores, dos lavradores, dos camioneiros, das crianças, dos namorados
homem-mulher maranhenses no amor que dá a vida, a beleza e a prosperidade que
virá.
O Silêncio dos Sinos
Foi criada a Diocese de
Bacabal, com a posse de seu primeiro Bispo Dom PascásioRettller, a 1º de
novembro de 1968.
A proximidade da Paróquia de
Esperantinópolis com a sede a nova Diocese fez com que se desmembrasse da
Diocese de Grajaú, de atuação dos padres capuchinhos, dando-nos uma nova
jurisdição eclesiástica.
Foi o motivo de suas
despedidas de Esperantinópolis, de freis e de irmãs, deixando espaço à ação
pastoral da nova Diocese.
Após vinte anos de
trabalhos, deixaram os capuchinhos um belo conjunto de construções que não
foram preservados. Em nome de uma ocupação comercial, o quarteirão onde era o
convento dos frades, foi todo demolido e loteado, ficando somente o ambulatório
médico que deu para ser o início do atual Hospital Municipal Santa Marta.
Do Educandário das irmãs,
ficou um pouco, mas descaracterizado de sua construção primitiva, onde está o
conjunto constituído pela formosa, monumental igreja matriz, a casa paroquial e
o que se chama atualmente de igreja velha e o salão paroquial.
Sinais, de um amor que nos
trouxe muito quando se mais precisava e nada se tinha, dos italianos
capuchinhos que chegaram e acenderam uma lâmpada de bênçãos que não cessam de
acontecer.
Bênçãos igualmente as que
nos trouxeram crentes de outras denominações cristãs evangélicas, da Assembleia
de Deus, da Igreja Batista, da Igreja Adventista, da Igreja Cristã do Brasil,
das Testemunhas de Jeová, integradas na construção da cidade feliz, pois, com o
trabalho amor feito pregação e vida dia-a-dia.
Registro, portanto, minha
cristã alegria que me faz aceitar, bendizer a todas as igrejas de minha cidade.
Mas, como católico, registro
também a minha saudade das músicas dos sinos que tangiam por nós os braços
franciscanos, sinos de nossas infâncias, ausências não mais preenchidas.
Acontecimentos
31
de janeiro de 1960
- Posse do Prefeito Osiel Miranda e do
Vice-Prefeito Antonio Leal Arraes.
1º
de março de 1960
- Chegam cinco Irmãs Capuchinhas
lideradas por Frei Simeão de Levate, que assumem trabalho educacional com o
Educandário Santa Rosa de Viterbo.
31
de janeiro de 1965
- Posse do Vereador Adriano Rodrigues de
Oliveira, então Presidente da Câmara Municipal, no cargo de Prefeito Municipal,
na vacância deixada por Osiel Miranda que optou por não cumprir o período de
prorrogação de mais um ano de seu mandato de Prefeito Municipal.
15
de agosto de 1965
- Inauguração da iluminação pública de um
grupo gerador adquirido e instalado pela Prefeitura na gestão do Prefeito
Interino Adriano Rodrigues de Oliveira.
25
de outubro de 1965
- Posse do Prefeito Olímpio Carneiro
Leite e do Vice-Prefeito Luís Alves Brasil.
19
de outubro de 1967
- Fundação da Igreja Assembléia de Deus
pelo Pastor Raimundo Barros.
15
de março de 1968
- Fundação do Ginásio Bandeirante, atual
Centro de Ensino Antonio Corrêa.
27
de setembro de 1969
- Instalação da Comarca de
Esperantinópolis.
22
de dezembro de 1969
- Instalação, abertura da agência de
correios.
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