sábado, 28 de julho de 2018

Moendas e Fusos | Capítulo VIII ~ Êxodo Rural


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Êxodo Rural


“Cada voz uma história,
         Cada história um sofrimento
                  Cada sofrimento uma esperança”.

                                     Sandra Gomes Ibiapino Marinho
                                     Canções de Ninar









A abertura democrática dos inícios dos anos da década de 1980, era uma canção de esperança também para o povo maranhense, principalmente para o povo de lavradores que não tinham mais onde viver, trabalhar, amar, abrir rodas de festas, seus caminhos eram para a emigração, êxodo rural pelo sonho do ouro de Serra Pelada, ou do bom emprego na construção de Tucuruí, ou de um pedaço de terra das imensas áreas de mata amazônica de verdes, águas e animais. O homem e a mulher procurando ainda a terra de sua herança prometida.
Esperantinópolis acenava adeuses aos seus trabalhadores e trabalhadoras. Primeiro, os homens se iam, deixando mulher e filhos, para, de lá mandar dinheiro... Quantos que nunca mais voltaram, mas outros que se arrumavam e se levavam em caminhões com tudo do pouco que era o seu. Esperantinópolis caía de produção, do seu arroz, milho, feijão, farinha de mandioca. Começou o comércio de importação do que tanto já exportou.
A situação política era a da consolidação da oligarquia dos Sarney, governo de pai para filha, para amigos, de volta à filha... Sistema de um coronelismo novo centrado nas Prefeituras Municipais em que o poder central, no Palácio dos Leões, avassalava os Municípios com as obrigações de fidelidade, chegando a obrigar o Prefeito a executar as ordens de “cima emanadas”, como a mim foi dito uma certa vez.
Eu exercia a função de Secretário Municipal de Educação, cargo a que cheguei por representação do partido a que me filiei, de orientação ideológica democrata-trabalhista, numa aliança que, por sorte, chegou ao poder. Já agora, neste Século XXI, quando das eleições do ano de 2002, eu, por compromisso ideológico, não podia votar no candidato situacionista, representante da oligarquia, então o Prefeito Municipal teve, por obrigação, de demitir-me e enviar ao Palácio do Governo, via fax, a Portaria pela qual eu estava demitido, como uma prova de sua fidelidade ao governo.
Eu chamo a esse sistema de governo de neo-coronelismo, vejo nele todas as características dos antigos mandos e desmandos dos finados coronéis que se revivem nas vozes, nos carrancismos, nos direitismos reacionários de muitos, muitíssimos dos Prefeitos Municipais a se guiarem, numa obediência a toda prova, pelas ordens que lhes vêm com timbres do Palácio dos Leões.
E Esperantinópolis... Nos anos da década de 1980, povoados se extinguiram , onde havia, por exemplo, escola com mais de quarenta crianças matriculadas, deixaram só os nomes nas ruínas das casas abandonadas. Alguns, desses povoados, depois, como áreas de assentamentos de reforma agrária, voltaram a se povoar. Outros, deram seus nomes a fazendas de criação de gado.
Produção, essa, não. Nosso Índice de Desenvolvimento humano – IDH é um dos mais baixos dos municípios maranhenses, a pobreza econômica se expande entre a população rural e em áreas de periferias da cidade.
Riqueza, há, porém num alto nível de concentração de agro negócio e de transações, a título de comércio, a enviar lucros para outras regiões.
O povo luta. Falta-lhe os meios de produção: terra, crédito, assistência técnica. Mas os que não querem ir embora se viram no comércio informal, fazem a feira para complementar o que recebem dos programas sociais do governo federal.

   

Tele-Visão


Para mudar de assunto, chegou a televisão, a 30 de março de 1982.
Fechou o nosso Cine Asteca, tirou devotos das rezas, acabou com as rodas de boas conversas às bocas de noite, e os nossos romances ganharam enredos de novelas. Trouxe o mundo para dentro de nossas casas, a nos fazer ver o mundo bonito, de diversidades tantas, de possibilidades, formas, espaços que a gente não acreditava serem tantas.
Mas o mundo do bem e do mal. Céu e inferno. Céu que ainda o é o mundo com tantas coisas boas e belas como o futebol, o carnaval, as missas católicas, as pregações evangélicas... E, do inferno, o mundo do mal, das guerras, dos crimes. Porém, de possibilidades tantas de redenção ao exemplo do ativo amor de Madre Teresa de Calcutá e o sorriso abraço de João Paulo II.
O sinal imagem de TV, foi resultado de uma tecnologia que a Prefeitura da administração Anísio Carneiro Corrêa realizou, numa programação de trabalho prestigiada pelo então Governador do Estado João Castelo Ribeiro Gonçalves que, já visitara Esperantinópolis ao inaugurar a agência bancária pioneira do Banco da Amazônia S.A., fizera construir o Terminal Rodoviário, a ampliação do Hospital Municipal, dentre várias obras que o Município recebeu por esse período. Período, que se ilustrou assim com a televisão que, também, se incorporava na nossa cultura como auxílio-proposta de liberdade de expressão, proporcionada pela abertura democrática.
Graças à televisão, ainda com opção somente de três canais, conhecemos, participamos não só dos eventos das artes, dos esportes, da religião, mas também da política, como do movimento que nos deu motivos de orgulho de sermos brasileiros, o das “Diretas Já”. Vimos, vibramos com Fafá de Belém, Milton Nascimento, também Ulisses Guimarães, Leonel Brizola, o Lula... E, de um modo carinhosamente especial, a brava e terna Risoleta Neves, num momento em que a todos nós nos consolava e levava-nos a crer e a lutar pelo Brasil por quem o Seu Tancredo Neves dava a sua vida.
 E Esperantinópolis... Povoados se extinguiram, onde havia, por exemplo, escola com mais de quarenta crianças matriculadas, deixaram só os nomes nas ruínas das casas abandonadas. Alguns, depois, como áreas de assentamentos de reforma agrária, voltaram a se povoar. Outros, deram seus nomes a fazendas de criação de gado.
Produção, que é bom, essa, não. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano – IDH é um dos mais baixos dos municípios maranhenses, a pobreza econômica se expande entre a população rural e em áreas de periferias da Cidade.
Riqueza, há, porém num alto nível de concentração de agro-negócio e de transações, a título de comércio, a enviar lucros para outras regiões.
O povo luta. Falta-lhe os meios de produção: terra, crédito, assistência técnica. Mas os que não querem ir embora se viram no comércio informal, fazem a feira para complementar o que recebem dos programas sociais do governo federal.

  

Arte-Democracia


Imaginamos, eu e Graça Lima, mobilizar nossas escolas para uma ação coletiva para o ver, estudar, fazer um evento de artes a envolver, pedagogicamente, toda a comunidade.
Eu dirigia a escola estadual, hoje Centro de Ensino Antonio Corrêa e Graça dirigia o Colégio Cláudio Carneiro, de formação para o Magistério e de Técnico em Contabilidade.
Pensamos num jeito de fazer diferente e, como a quase vinte anos depois escrevia a educadora Célia Frazão Linhares em seu livro Escola Balaia: “cabe à escola nos ajudar também a imaginar outras realidades, nos estimulando, como sujeitos históricos a construir novos lugares, na gestação de uma outra cultura”. Compreendemos que nos cabia, àquele tempo, de realizar o Primeiro Festival da Arte Popular, de 12 a 15 de outubro de 1982.
Os festivais, que foram vários, se realizaram como oficinas de nossas artes em que nos formamos como comunidade ao nos descobrirmos capazes de tirar a beleza de dentro de nós mesmos, posicionando-nos e refazendo a nossa realidade. Desse período surgiram de nossas salas de aula uma movimentação artística com uma produção, ainda que principiante, porém com uma vocação talentosa para ser uma boa arte musical com exemplos de cantores, músicos, compositores, dentre muitos, Edvaldo Soares, Carneirinho, Jailson Fontes; no teatro, José Nilton Monteiro, Charles Rodrigues, Águida Campelo; no rádio, Nilton Lee, Gilson Vieira, AntonioLuis Ferreira; nas artes plásticas, Aluisio Viana, Cristiana Lima, Itamar Pires; na literatura, Edézio Monteiro, Albertina Arruda, Elizeu Nascimento, Sandra Marinho, estes e outros intelectuais que estão reunidos em um projeto de formação da Academia Esperantinopense de Letras.
Graça Lima, comigo, tivemos muito a ganhar, pessoalmente, com as oportunidades que se nos deram, de leituras, pesquisas, cursos e mais os desafios de lideranças à frente de eventos, projetos e a condução-gestão da política pública municipal da cultura que se iniciou na década dos anos de 1980, e, posteriormente, após 1977 até este ano de 2010.
 Sim, até este ano de 2010, ponto em que avaliamos o caminho que fizemos com a intenção educadora de fazermos nossa opção de arte-democracia. Caminho, que ao passar por 1993, deu-me a possibilidade pelo que me lancei escritor com o romance As Vaias da Galera, com publicação da Secretaria de Estado da Cultura, no Plano Editorial do SIOGE. Graça Lima fez carreira como compositora e cantora em seu gênero de música religiosa católica, lançando três CDs – voz, poesia e composição, representante de Esperantinópolis por muitos lugares onde tem dado espetáculos ao longo de sua ainda breve e iniciante carreira, que chega aos dez anos. Tempo em que tentamos unir a arte, o nosso amor, o nosso compromisso com nosso povo, numa ação militante pela fé que nos anima, de que a vida pode ser melhor, quando a democracia se faça também a nossa arte de bem viver.



Volta às Esquerdas


Minha formação política se iniciou por ouvir, em rodas de conversas, das vidas, das ações de líderes nacionais, Leonel Brizola, Jango Goulart, Darcy Ribeiro, e estaduais, Neiva Moreira, Henrique de La Rocque, ClodomirMilet, estes maranhenses, me fazendo crer e a dar o meu primeiro voto com as Oposições Coligadas, nos anos de 1960 e 1962.
Com a eleição de José Sarney e Antonio Dino, em 1965, com o apoio a essa chapa dado pelas Oposições Coligadas, que não perderam a chance de derrotar o vitorinismo, com elas eu votei e me integrei na luta pró candidatura a Prefeito de Olimpio Carneiro Leite, vitoriosa, graças ao rigor com que os militares tomaram mesmo o Maranhão e deram a cobertura necessária para acabar com todos os mecanismos das fraudes eleitorais que eram a força invencível do vitorinismo.
No ano seguinte, elegi-me Vereador e ajudei a consolidar um grupo político municipal que destacou personalidades como Anísio Carneiro Corrêa, Adriano Rodrigues de Oliveira, João Romão Bezerra, Olímpio Carneiro Leite, Natal Jovita Carneiro, que obteve trânsito, prestígio e representação no governo do estado, na reciprocidade do apoio eleitoral pelas concessões de obras e serviços a melhorarem as condições de vida do povo esperantinopense.
Mas o sonho de um Maranhão que seria novo não se realizou. As antigas práticas das antigas oligarquias maranhenses se reviviam e os Municípios, os lugares onde o poder se tornava, não mais do povo, mas de um grupo muito fechado e a se manter no governo através da alienação das massas atraídas com a festa, a bola de futebol, o sub-emprego e a perseguição aos dissidentes. Assim, não encontrei mais espaço-democracia pelo qual entrei na política.
Dei a volta às esquerdas, a partir de 1986. Fui candidato a Prefeito em 1988, não logrei êxito.
Nas eleições municipais de 1988, a fraude eleitoral rolou à solta. Não foi fácil enfrentar uma justiça eleitoral, em letras minúsculas, porque abertamente a favor do grupo dominante e por afastar, a qualquer custo, os esquerdistas, comunistas, vermelhos, como nos chamavam, a nós, que lhe dávamos a resistência, por sermos de oposição.
  A esta situação, de características de um ressuscitado vitorinismo, quando aos correlegionários amigos se davam “os favores da lei” e aos adversários inimigos, “ os rigores da lei”. Enfrentar em eleições, uma situação assim, só com muita ousadia.
Quando o dinheiro comprava o voto do eleitor pobre que até aprendeu a dizer para quem lhe pedia o voto, “só ajudo a quem me ajuda”, com os milheiros de telhas para cobrir a casa, as botas para se calçar, as chuteiras para o jogo e mais a bola de futebol e a equipe de camisas, e calções, e o carro para carregar a mudança, a safra da roça, a madeira da casa e... a dentadura! Porque era assim que o sistema ditava fazer para ganhar.
Enquanto o mais, ficava aí, a estrada por fazer, a escola por se melhorar, o salário de uma professora municipal, no fim da década dos anos oitenta, equivalia a doze quilos de feijão. E a saúde, o saneamento básico, a urbanização, tudo parado. O Município perdia população no êxodo rural contínuo, a economia de pouca produção, e o poder em palanques numa eterna campanha de compra de votos, numa alienação mantida pelos bailes de forró, o jogo de futebol e muita, muita bebida e propaganda.


  

 Acontecimentos

13 de novembro de 1980
      - O Prefeito Anísio Carneiro Corrêa recepciona o Governador do estado João Castelo Ribeiro Gonçalves que veio inaugurar a Agência do Banco da Amazônia S.A, e mais obras construídas pela Prefeitura Municipal.

20 de dezembro de 1981
        - Inauguração do templo da Igreja Assembleia de Deus, à Rua 3 de agosto, construído pelo pastor José Manoel da Silva.

30 de março de 1982
- Recepção da primeira imagem de televisão captada da TV Difusora, de São Luís.

15 de outubro de 1982
    - Grande final do Primeiro Festival de Arte Popular.

31 de janeiro de 1983
      - Posse do Prefeito Natal Jovita Carneiro e do Vice-Prefeito José Ferreira do Nascimento.

12 de outubro de 1985
      - Visitam Esperantinópolis, por ocasião do 4º Festival de Arte Popular, representantes da Secretaria de Estado da Cultura, o Poeta Chagas Val, o Maestro Wellinton Reis e o teatrólogo Tácito Borralho.
     - Fundação da Casa Municipal de Cultura.

1º de janeiro de 1989
      - Posse do Prefeito Carlos Henrique Muniz Cruz e da Vice-Prefeita Francisca de Fátima Bezerra Tavares.

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