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Êxodo Rural
“Cada voz uma
história,
Cada
história um sofrimento
Cada sofrimento uma esperança”.
Sandra
Gomes Ibiapino Marinho
Canções de
Ninar
A abertura democrática dos
inícios dos anos da década de 1980, era uma canção de esperança também para o
povo maranhense, principalmente para o povo de lavradores que não tinham mais onde
viver, trabalhar, amar, abrir rodas de festas, seus caminhos eram para a
emigração, êxodo rural pelo sonho do ouro de Serra Pelada, ou do bom emprego na
construção de Tucuruí, ou de um pedaço de terra das imensas áreas de mata
amazônica de verdes, águas e animais. O homem e a mulher procurando ainda a
terra de sua herança prometida.
Esperantinópolis acenava
adeuses aos seus trabalhadores e trabalhadoras. Primeiro, os homens se iam,
deixando mulher e filhos, para, de lá mandar dinheiro... Quantos que nunca mais
voltaram, mas outros que se arrumavam e se levavam em caminhões com tudo do
pouco que era o seu. Esperantinópolis caía de produção, do seu arroz, milho,
feijão, farinha de mandioca. Começou o comércio de importação do que tanto já
exportou.
A situação política era a da
consolidação da oligarquia dos Sarney, governo de pai para filha, para amigos,
de volta à filha... Sistema de um coronelismo novo centrado nas Prefeituras
Municipais em que o poder central, no Palácio dos Leões, avassalava os Municípios
com as obrigações de fidelidade, chegando a obrigar o Prefeito a executar as
ordens de “cima emanadas”, como a mim foi dito uma certa vez.
Eu exercia a função de
Secretário Municipal de Educação, cargo a que cheguei por representação do
partido a que me filiei, de orientação ideológica democrata-trabalhista, numa
aliança que, por sorte, chegou ao poder. Já agora, neste Século XXI, quando das
eleições do ano de 2002, eu, por compromisso ideológico, não podia votar no
candidato situacionista, representante da oligarquia, então o Prefeito
Municipal teve, por obrigação, de demitir-me e enviar ao Palácio do Governo,
via fax, a Portaria pela qual eu estava demitido, como uma prova de sua
fidelidade ao governo.
Eu chamo a esse sistema de
governo de neo-coronelismo, vejo nele todas as características dos antigos
mandos e desmandos dos finados coronéis que se revivem nas vozes, nos
carrancismos, nos direitismos reacionários de muitos, muitíssimos dos Prefeitos
Municipais a se guiarem, numa obediência a toda prova, pelas ordens que lhes
vêm com timbres do Palácio dos Leões.
E Esperantinópolis... Nos
anos da década de 1980, povoados se extinguiram , onde havia, por exemplo,
escola com mais de quarenta crianças matriculadas, deixaram só os nomes nas
ruínas das casas abandonadas. Alguns, desses povoados, depois, como áreas de
assentamentos de reforma agrária, voltaram a se povoar. Outros, deram seus
nomes a fazendas de criação de gado.
Produção, essa, não. Nosso
Índice de Desenvolvimento humano – IDH é um dos mais baixos dos municípios
maranhenses, a pobreza econômica se expande entre a população rural e em áreas
de periferias da cidade.
Riqueza, há, porém num alto
nível de concentração de agro negócio e de transações, a título de comércio, a
enviar lucros para outras regiões.
O povo luta. Falta-lhe os
meios de produção: terra, crédito, assistência técnica. Mas os que não querem
ir embora se viram no comércio informal, fazem a feira para complementar o que
recebem dos programas sociais do governo federal.
Tele-Visão
Para mudar de assunto,
chegou a televisão, a 30 de março de 1982.
Fechou o nosso Cine Asteca,
tirou devotos das rezas, acabou com as rodas de boas conversas às bocas de
noite, e os nossos romances ganharam enredos de novelas. Trouxe o mundo para
dentro de nossas casas, a nos fazer ver o mundo bonito, de diversidades tantas,
de possibilidades, formas, espaços que a gente não acreditava serem tantas.
Mas o mundo do bem e do mal.
Céu e inferno. Céu que ainda o é o mundo com tantas coisas boas e belas como o
futebol, o carnaval, as missas católicas, as pregações evangélicas... E, do
inferno, o mundo do mal, das guerras, dos crimes. Porém, de possibilidades
tantas de redenção ao exemplo do ativo amor de Madre Teresa de Calcutá e o
sorriso abraço de João Paulo II.
O sinal imagem de TV, foi
resultado de uma tecnologia que a Prefeitura da administração Anísio Carneiro
Corrêa realizou, numa programação de trabalho prestigiada pelo então Governador
do Estado João Castelo Ribeiro Gonçalves que, já visitara Esperantinópolis ao
inaugurar a agência bancária pioneira do Banco da Amazônia S.A., fizera
construir o Terminal Rodoviário, a ampliação do Hospital Municipal, dentre
várias obras que o Município recebeu por esse período. Período, que se ilustrou
assim com a televisão que, também, se incorporava na nossa cultura como
auxílio-proposta de liberdade de expressão, proporcionada pela abertura
democrática.
Graças à televisão, ainda
com opção somente de três canais, conhecemos, participamos não só dos eventos das
artes, dos esportes, da religião, mas também da política, como do movimento que
nos deu motivos de orgulho de sermos brasileiros, o das “Diretas Já”. Vimos,
vibramos com Fafá de Belém, Milton Nascimento, também Ulisses Guimarães, Leonel
Brizola, o Lula... E, de um modo carinhosamente especial, a brava e terna
Risoleta Neves, num momento em que a todos nós nos consolava e levava-nos a
crer e a lutar pelo Brasil por quem o Seu Tancredo Neves dava a sua vida.
Produção, que é bom, essa,
não. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano – IDH é um dos mais baixos dos
municípios maranhenses, a pobreza econômica se expande entre a população rural
e em áreas de periferias da Cidade.
Riqueza, há, porém num alto
nível de concentração de agro-negócio e de transações, a título de comércio, a
enviar lucros para outras regiões.
O povo luta. Falta-lhe os
meios de produção: terra, crédito, assistência técnica. Mas os que não querem
ir embora se viram no comércio informal, fazem a feira para complementar o que
recebem dos programas sociais do governo federal.
Arte-Democracia
Imaginamos, eu e Graça Lima,
mobilizar nossas escolas para uma ação coletiva para o ver, estudar, fazer um evento
de artes a envolver, pedagogicamente, toda a comunidade.
Eu dirigia a escola
estadual, hoje Centro de Ensino Antonio Corrêa e Graça dirigia o Colégio
Cláudio Carneiro, de formação para o Magistério e de Técnico em Contabilidade.
Pensamos num jeito de fazer
diferente e, como a quase vinte anos depois escrevia a educadora Célia Frazão
Linhares em seu livro Escola Balaia: “cabe à escola nos ajudar também a
imaginar outras realidades, nos estimulando, como sujeitos históricos a
construir novos lugares, na gestação de uma outra cultura”. Compreendemos que
nos cabia, àquele tempo, de realizar o Primeiro Festival da Arte Popular, de 12
a 15 de outubro de 1982.
Os festivais, que foram
vários, se realizaram como oficinas de nossas artes em que nos formamos como
comunidade ao nos descobrirmos capazes de tirar a beleza de dentro de nós
mesmos, posicionando-nos e refazendo a nossa realidade. Desse período surgiram
de nossas salas de aula uma movimentação artística com uma produção, ainda que
principiante, porém com uma vocação talentosa para ser uma boa arte musical com
exemplos de cantores, músicos, compositores, dentre muitos, Edvaldo Soares,
Carneirinho, Jailson Fontes; no teatro, José Nilton Monteiro, Charles
Rodrigues, Águida Campelo; no rádio, Nilton Lee, Gilson Vieira, AntonioLuis
Ferreira; nas artes plásticas, Aluisio Viana, Cristiana Lima, Itamar Pires; na
literatura, Edézio Monteiro, Albertina Arruda, Elizeu Nascimento, Sandra
Marinho, estes e outros intelectuais que estão reunidos em um projeto de formação
da Academia Esperantinopense de Letras.
Graça Lima, comigo, tivemos
muito a ganhar, pessoalmente, com as oportunidades que se nos deram, de
leituras, pesquisas, cursos e mais os desafios de lideranças à frente de
eventos, projetos e a condução-gestão da política pública municipal da cultura
que se iniciou na década dos anos de 1980, e, posteriormente, após 1977 até
este ano de 2010.
Volta às Esquerdas
Minha formação política se
iniciou por ouvir, em rodas de conversas, das vidas, das ações de líderes
nacionais, Leonel Brizola, Jango Goulart, Darcy Ribeiro, e estaduais, Neiva
Moreira, Henrique de La Rocque, ClodomirMilet, estes maranhenses, me fazendo
crer e a dar o meu primeiro voto com as Oposições Coligadas, nos anos de 1960 e
1962.
Com a eleição de José Sarney
e Antonio Dino, em 1965, com o apoio a essa chapa dado pelas Oposições
Coligadas, que não perderam a chance de derrotar o vitorinismo, com elas eu
votei e me integrei na luta pró candidatura a Prefeito de Olimpio Carneiro
Leite, vitoriosa, graças ao rigor com que os militares tomaram mesmo o Maranhão
e deram a cobertura necessária para acabar com todos os mecanismos das fraudes
eleitorais que eram a força invencível do vitorinismo.
No ano seguinte, elegi-me
Vereador e ajudei a consolidar um grupo político municipal que destacou
personalidades como Anísio Carneiro Corrêa, Adriano Rodrigues de Oliveira, João
Romão Bezerra, Olímpio Carneiro Leite, Natal Jovita Carneiro, que obteve
trânsito, prestígio e representação no governo do estado, na reciprocidade do
apoio eleitoral pelas concessões de obras e serviços a melhorarem as condições
de vida do povo esperantinopense.
Mas o sonho de um Maranhão
que seria novo não se realizou. As antigas práticas das antigas oligarquias
maranhenses se reviviam e os Municípios, os lugares onde o poder se tornava,
não mais do povo, mas de um grupo muito fechado e a se manter no governo
através da alienação das massas atraídas com a festa, a bola de futebol, o
sub-emprego e a perseguição aos dissidentes. Assim, não encontrei mais
espaço-democracia pelo qual entrei na política.
Dei a volta às esquerdas, a
partir de 1986. Fui candidato a Prefeito em 1988, não logrei êxito.
Nas eleições municipais de
1988, a fraude eleitoral rolou à solta. Não foi fácil enfrentar uma justiça
eleitoral, em letras minúsculas, porque abertamente a favor do grupo dominante
e por afastar, a qualquer custo, os esquerdistas, comunistas, vermelhos, como
nos chamavam, a nós, que lhe dávamos a resistência, por sermos de oposição.
Quando o dinheiro comprava o
voto do eleitor pobre que até aprendeu a dizer para quem lhe pedia o voto, “só
ajudo a quem me ajuda”, com os milheiros de telhas para cobrir a casa, as botas
para se calçar, as chuteiras para o jogo e mais a bola de futebol e a equipe de
camisas, e calções, e o carro para carregar a mudança, a safra da roça, a
madeira da casa e... a dentadura! Porque era assim que o sistema ditava fazer
para ganhar.
Enquanto o mais, ficava aí,
a estrada por fazer, a escola por se melhorar, o salário de uma professora
municipal, no fim da década dos anos oitenta, equivalia a doze quilos de
feijão. E a saúde, o saneamento básico, a urbanização, tudo parado. O Município
perdia população no êxodo rural contínuo, a economia de pouca produção, e o
poder em palanques numa eterna campanha de compra de votos, numa alienação
mantida pelos bailes de forró, o jogo de futebol e muita, muita bebida e
propaganda.
Acontecimentos
13
de novembro de 1980
-
O Prefeito Anísio Carneiro Corrêa recepciona o Governador do estado João
Castelo Ribeiro Gonçalves que veio inaugurar a Agência do Banco da Amazônia
S.A, e mais obras construídas pela Prefeitura Municipal.
20 de dezembro de 1981
- Inauguração do templo da Igreja Assembleia de Deus, à Rua 3 de agosto,
construído pelo pastor José Manoel da Silva.
30 de março de 1982
- Recepção da primeira imagem de televisão
captada da TV Difusora, de São Luís.
15 de outubro de 1982
-
Grande final do Primeiro Festival de Arte Popular.
31 de janeiro de 1983
-
Posse do Prefeito Natal Jovita Carneiro e do Vice-Prefeito José Ferreira do
Nascimento.
12 de outubro de 1985
-
Visitam Esperantinópolis, por ocasião do 4º Festival de Arte Popular,
representantes da Secretaria de Estado da Cultura, o Poeta Chagas Val, o
Maestro Wellinton Reis e o teatrólogo Tácito Borralho.
-
Fundação da Casa Municipal de Cultura.
1º de janeiro de 1989
-
Posse do Prefeito Carlos Henrique Muniz Cruz e da Vice-Prefeita Francisca de
Fátima Bezerra Tavares.
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