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Re - Canto
“Longe, muito longe
Dos rios de sangue
Dos botões do nosso possível fim
Em paz tarde da noite
Sem medo
Sentado no banco da praça
É assim que te amo e amando vou
Esperantinópolis – Meu Amor”.
Edézio Monteiro
A poesia continuou a
aparecer-se na cidade, carta escrita que se endereçava a quem de muito do seu
amor vivia e por viver do saber de como estava passando e do quanto de saudade
sentia dos muitos que emigraram por necessidades de livrar-se de tantas dores,
sem saber onde e quando achar uma fonte milagre alívio.
Eram os anos da década de
1990. Novidades, muito poucas, a do fim do ciclo produtivo do arroz, tempos de
invernos de muitas chuvas e estradas intransitáveis, fechamento da agência do
Banco da Amazônia S/A., economia em baixa.
Neo-liberalismo econômico a
se fazer sentir com demissões, pouco dinheiro em praça, quantos bancários do
Banco do Brasil S/A, quantos funcionários públicos estaduais, por vantagens que
lhes foram oferecidas, deixaram seus postos de trabalhos. Emigraram, quantos!
A paisagem urbana da cidade
de Esperantinópolis demonstrava decadência, sujeira, falta de cuidados, pobreza
nas fachadas dos prédios públicos e da população em empobrecimento. As
periferias tornavam-se favelas sem calçamento nas ruas, sem escolas, sem água
encanada, sem iluminação pública e se chamavam ruas do Buraco e do Alto da
Jatay.
Havia mais o sub-emprego,
salários tão baixos alimentadores do clientelismo político. A escola, ainda que
houvesse escola para todas as crianças, incluídas as do meio rural, mas era uma
escola com a marca da professora leiga, do sub-salário, da classe
multisseriada, do elevado analfabetismo alimentado, ano-após-ano, por tantos
jovens que, em tempo de criança, evadiram-se da escola.
Mas havia a resistência da
esperança que acendia lutas. Havia a literatura a fazer a cidade-escrita,
pincéis de cores pintando a história, músicos tocando instrumentos no canto da
beleza que não morre, mas ressuscita a luta no sorriso da vitória caminho dos
que amam a cidade e lhe inscreve o nome do ritmo tambor do coração.
O Arame Farpado
Estende-se o arame farpado a
cercar as glebas ainda em questões, mesmo que a reforma agrária esteja a
demarcar os lotes e a entregá-los aos lavradores. Uma luta sem tréguas. Entre
os que pretendem lavrar a roça de arroz, milho, feijão, mandioca, e os que
objetivam cultivar capinzais para a criação de gado. O Século XX finda-se com
as cercas a guardar a terra propriedade mais para a pecuária do que para a
agricultura.
A produção diminuía, chegava
a uma condição de agricultura de subsistência. Começamos a importar arroz,
feijão, farinha de mandioca... A feira dos sábados é feira dos que vêm de fora
para nos vender, não só mercadorias de manufaturas, mas também de produtos
agrícolas, as frutas, legumes, verduras.
Ainda que o babaçu socorra uma
grande parcela da população que invade os vales cercados dos palmeirais à cata
do coco. Já há iniciativas comunitário-associativas do beneficiamento e de
extração industrial de produtos do coco babaçu, além da amêndoa. Com que
enfrentam adversidades tantas como o ser os babaçuais de propriedades de
fazendeiros que intentam já um começo de extermínio das palmeiras. É baixo o
preço das amêndoas que a quitanda dá por quilo comprado, a pobreza acarretada
com mais as doenças e necessidades tantas dos trabalhadores e trabalhadoras da
extração do babaçu que, são traços da realidade de empobrecimento econômico que
faz o Município de Esperantinópolis sem o desenvolvimento humano necessário
para os impulsos do crescimento e da felicidade de seu povo.
Há resistente esperança no
entanto, quando se organizam os assentamentos para a reforma agrária, para onde
convergem benefícios do governo federal como os caminhos de acesso, serviços de
distribuição de água e luz, educação do campo, postos de saúde, habitação e o
crédito.
Em 1997, foi criada a
Secretaria Municipal de Agricultura, viabilizando uma política pública de
parcerias entre as gestões municipal, estadual e federal com vistas ao amparo
do trabalhador rural, pelo seu desenvolvimento e sua fixação na terra.
Esperanças construindo-se em mutirões, mas ainda
sem se conseguir estancar o triste êxodo rural.
Rádio, Unidade-Diversidade
A democracia da comunicação
demanda do falar e do ouvir, do avaliar, do propor, do debater. Mas essa
maneira de democratizar, não aconteceu no Maranhão.
Uma grande rede de emissoras
de rádio, logo após a promulgação da Constituição Cidadã de 1988, interligou os
municípios maranhenses sob o poder da oligarquia Sarney, de modo a que em
Esperantinópolis, pelo Deputado Enoc Vieira, chegava a concessão da Rádio Boas
Novas, cedida ao então Prefeito Carlos Henrique Muniz Cruz que a rebatizou de
Rádio Boa Esperança do Mearim.
Esperantinópolis até que
gostou de ter sua rádio AM, potente, a cobrir todo o território do Município e
muitas áreas da região do nosso Médio Mearim, que levou voz, talento,
criatividade de gente nossa que encontrou no radialismo a ocasião de trabalho e
de mostrar valores. Ouviu-se, encantou-se a população da boa voz de Nilton Lee,
que, ao final da década dos anos de 1990 emigrou para centros mais
desenvolvidos e fez curso superior de jornalismo para regressar à terra natal
onde promove, com a sua capacidade e popularidade adquirida em tempos do rádio,
novas formas de comunicação ao editar o seu jornal PANORAMA. E, com Nilton Lee,
outros, autodidatas do microfone, Edézio Monteiro, Rosilene Borges, Gilson
Vieira, Carneirinho, José Nilton Monteiro, Antonio Luís Ferreira, Toinho Félix,
tornaram-se bons comunicadores porque têm nossas linguagens, nossos saberes,
nossos gostos musicais.
No mundo do jornalismo
noticioso, porém, a oligarquia era e é ainda a que tem a palavra. A Rádio Boa
Esperança do Mearim não dá outra notícia, senão a que lhe vem em rede com o
Sistema Mirante de Comunicação.
Estamos sob um cerco aéreo.
Terra, céu, rio, mar, tudo, todos sob o controle monopólio do que poderia se
tornar uma partilha de um poder tão grande, como o é o poder dos meios de
comunicação social para uma democracia.
Então, sossego! Guardo a
memória das eleições municipais de 1992, a emissora Rádio Boa Esperança do
Mearim entrou em pane, saiu do ar no primeiro dia da propaganda eleitoral pelo
rádio, e ficou fora do ar até o último dia em que a Justiça Eleitoral a
permitia. No dia seguinte, sim, às seis horas da manhã, os rádios cantavam e o
candidato da situação e o então Prefeito, o proprietário, usavam os microfones
da rádio difusão numa manhã toda de entrevistas, quando não havia mais para nós
da oposição o direito de uma palavra como resposta. Falaram, falaram, ninguém
os contestou, ganharam a eleição.
Fogos, Vêm-nos Governadores
O primeiro Governador do
Estado a visitar Esperantinópolis, em1970, Antonio Jorge Dino, para inaugurar a
tão sonhada Estrada MA-012, abriu um ciclo caminho pelo qual outros Governadores
nos visitaram, Pedro Neiva de Santana, para inaugurar a luz da CEMAR com a
energia da Hidrelétrica da Boa Esperança; Osvaldo da Costa Nunes Freire, para
inaugurar a continuidade da MA-012 até Barra do Corda e para Joselândia; João
Castelo Ribeiro Gonçalves, para inaugurar a agência do BASA, marco do nosso
desenvolvimento econômico.
Outros, que se lhes
seguiram, também nos visitaram, desde Luís Rocha a Roseana e José Reinaldo. E
foram motivos de festas, fogos de artifícios, mas não se inauguraram obras...
Tomaram café, almoçaram, receberam, deram abraços, conversaram, voaram de volta
à Upaon-Açu, ilha de nossos tantos amores.
O Maranhão, das lutas pela
terra, lutas reprimidas com muita violência, dos tempos da grande inflação, do
modelo econômico do neo-liberalismo, desempregador, fechador de estatais, foram
motivos para uma estagnação econômica, de governos sem projetos de
desenvolvimento, povo sem perspectivas, políticos desonestos a usarem do
dinheiro público para enriquecimento ilícito.
A oligarquia beneficiava-se.
O empobrecimento dos Municípios era visto e a pobreza garantia aos poderosos os
espaços para os seus métodos de encabrestamento, de aliciamento, enquanto
saúde, educação, geração de trabalho e renda ficavam esquecidos dos programas de
governo, até quase o final da década dos anos de 1990.
Esperantinópolis
reivindicava a pavimentação da estrada de Poção de Pedras - Esperantinópolis, o
fim do período das fraudes eleitorais, persistentes a cada pleito, até o de
1992 e as condições de melhorias urbanas, educacionais, de saúde e de aplicação
dos recursos públicos municipais, estaduais e federais através de projetos e
programas com a circulação de dinheiro na economia local a possibilitar mais
emprego e elevação da renda.
Para o final da década, bons
ventos de bons eventos aconteceram, o que permitiu novo entusiasmo, novas
esperanças no caminho coletivo para o Século XXI.
Ré-Viravolta à Lei
O que marcou a década dos
anos de 1990, a paz no campo com os assentamentos; a evolução educacional com a
aplicação da nova lei de diretrizes e bases da educação; e o fim das fraudes
eleitorais com o uso da urna eletrônica na ultima eleição do século XX.
A urna eletrônica tornou-se
o símbolo da modernidade e da igualdade de direitos, com o fim dos instrumentos
de fraudes, o voto de eleitor fantasma e a apuração manual que gerava os
boletins que registravam votos com subtrações e adições que derrotavam
candidatos eleitos e elegiam outros sem votos.
Eu, que já sofrera, não uma
derrota, porque a derrota de 1988, foi para mim vitória, porque dei meu
testemunho de fé na democracia. E mesmo, eu tinha que dar uma mensagem ao meu
povo que, somente como candidato a Prefeito, eu a poderia dizer. O que sofri
foi o tratamento desigual que me deram no fórum eleitoral. Para ilustrar essa
desigualdade, cito o fato de que, como candidato, não pude apresentar nenhum
nome para as funções de nenhuma das seções eleitorais, nem da área urbana e nem
rural. Todos os mesários, do Presidente ao último Suplente, todos eram correligionários
do candidato situacionista, por ele indicados.
A magistrada desse tempo nos
perseguia com “os rigores da lei”, como bem ensinara o coronel Victorino
Freire. Daí os procedimentos que nos subtraiam votos, como o que ficou
conhecido como a “operação quebra-pescoço”. Como funcionava:
O cidadão comparecia ao
Cartório Eleitoral, se qualificava para ser eleitor, mas o seu processo passava
por uma triagem de bons conhecedores de gente que identificavam cada um pelo
visto se, de governo ou de oposição. Os identificados como declarados e, até de
possíveis, serem eleitores da oposição, os processos destes caiam numa caixa, a
caixa dos “pescoços quebrados” a quem não seriam expedidos os respectivos
títulos de eleitor.
Para compreender melhor, uma
metáfora. O fórum tinha um portão largo, aberto dia-e-noite para a situação
transitar com uma liberdade, diga-se, sem impedimentos. Para a oposição, o
acesso ao fórum se dava por uma janela que exigia esforço físico à entrada, à
saída e em horários bem regulados.
Coisas do nosso Maranhão que
ainda é subdesenvolvido, analfabeto, pobre, muito pobre, e dado a obedecer.
Governista! Muito apegado ao poder, dá razão a esperteza do politico governista
a dizer que “em politica o único erro é perder eleição”. Daí porque se botam todos
a ação para ter consigo o poder judiciário. Para facilitar!
Mas já acontece porém que A
Justiça Eleitoral começa a dar sinais de independência, aqui, ali, acolá, em
momentos reveladores da justiça ser mesmo Justiça com letra maiúscula.
Quando o poder judiciário,
se faz presente. Quando se faz povo. Quando pune, mas também liberta, impondo a
igualdade de quem é governo e oposição nos deveres e nos direitos da lei.
O olhar do Juiz, a voz do
Juiz, a moral do Juiz faz ser diferente. Castiga, intimida os criminosos,
aborta ações criminosas em gestação, faz aparecer o direito de quem o tem. É a
grande realização histórica pela qual bendigo por viver e ver o direito do
povo, de poder escolher, eleger seus representantes de governo e de parlamento,
com a garantia da liberdade de voto, em germinação de nossa terra, semente
sagrada da democracia.
Novo Mapa
Num momento privilegiado da
cidadania da História do Maranhão, tempo em que se constituiu a Assembleia
Constituinte do Estado, por força da Constituição Federal promulgada em 5 de
outubro de 1988, populações interioranas organizaram-se, reivindicaram,
exigiram de seus Deputados Constituintes e conseguiram muitos as emancipações
de seus povoados em novos Municípios.
O mapa do Estado do Maranhão
se redesenhou com os seus novos Municípios e suas novas cidades. O Município de
Esperantinópolis teve o seu novo mapa definido com os desmembramentos dos novos
Municípios de São Roberto e de São Raimundo do Doca Bezerra em sua parte
meridional.
Houve eleições municipais em
outubro de 1996 e a 1º de janeiro de 1997, a Justiça Eleitoral, na pessoa do
Juiz Dr. Sebastião Joaquim Lima Bonfim dava as posses aos eleitos, do Executivo
e do Legislativo, enquanto fazia-se as instalações solenes das novas unidades a
integrarem os então 217 novos Municípios Maranhenses.
Fato histórico de relevante
importância para a região ao Sul, que se desmembrou. O povo ganhou porque a
administração se descentralizou, dirigiu-se para mais perto das povoações com o
poder de serviços públicos, e por receber as suas cidades como desafios de
trabalho de construção e de formação, a garantir-lhe a auto-estima da
cidadania.
E a cidade de
Esperantinópolis mais recebeu do que entregou. Tornou-se cidade-pólo de um
comércio regional e de influências político, cultural e administrativa.
Acontecimentos
20 de dezembro de 1990
-
Entra em funcionamento o sistema de telefonia fixo da TELMA, atualmente Oi.
28 de agosto de 1991
- Entra no ar as ondas da Rádio Boa Esperança do Mearim.
01 de janeiro de 1993
- Posse do Prefeito Elon Pereira Rodrigues e
do Vice-Prefeito Edivilson Amorim Bruce.
12 de novembro de 1996
- A
Câmara de Vereadores cassa o mandato do Prefeito Elon Pereira Rodrigues e dá
posse ao Vice-Prefeito Edivilson Amorim Bruce no cargo de Prefeito.
01 de janeiro de 1997
-
Posse do Prefeito Francisco Jovita Carneiro e do Vice-Prefeito Luís Oliveira
Silva.
-
Instalações, sob a Presidência do Juiz da Comarca de Esperantinópolis, Dr.
Sebastião Joaquim Lima Bonfim, dos Municípios emancipados de:
São Roberto e de São Raimundo do Doca Bezerra.
31 de janeiro de 1999
-
Aula inaugural do Curso de extensão Licenciatura Plena em Matemática do Centro
Federal de Ensino Tecnológico do Maranhão-CEFET, com matrícula de 80 alunos.
27 de junho de 1999
-
Inauguração do prédio do Fórum, onde fora a agência do Banco da Amazônia S.A. À
solenidade, estiveram presentes altas autoridades do Poder Judiciário do
Estado.
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