Moendas
“As cisões entre os grupos dominantes revelavam também o
esclerosamento de um sistema político que se baseava formalmente em uma
contradição entre o regionalismo e o presidencialismo,(...) quase sempre
manifestada sob a forma de violentas lutas.”
Ananias Alves Martins
Barricadas no Palácio dos Leões
O Golpe de 1922 no Maranhão
Havia uma crise social,
política, econômica, cultural que atingia o Brasil inteiro nos anos de 1920.
Inseguranças, perseguições, oligarquias, autoritarismos, injustiças praticadas
em nome da Justiça, o que tirava a paz de muitas famílias que se decidiam
migrar de uma região para outra, em busca de segurança e mais prosperidade.
Assim que, no caminho de
Cândido Mendes da Silva outros também vieram e a se dar bem. Gente do Maranhão, sertanejos, da região
do Parnaíba, de alto Itapecuru, nordestinos piauienses e pernambucanos.
Pernambucano era o
empresário Casé Sá e sua família de ilustre descendência, os seus filhos
Francisco Gomes de Sá e Gerson Gomes de Sá tornaram-se políticos de destacada
atuação na política maranhense na segunda metade do Século XX,e a Senhora
Cotinha Sá Arruda, exemplo de liderança feminina, formosa e atuante na
construção da comunidade.
Casé Sá foi o iniciador da
cultura da cana-de-açúcar, construindo o primeiro engenho de madeira para a
moagem da cana.
Com o empreendedorismo
pernambucano ajuntou-se o conhecimento dos piauienses, como assim se sobressaiu
Raimundo Moreira Cesar, conhecedor da técnica de carpintaria na fabricação
artesanal de engenhos de moer cana. E outros dos piauienses, destiladores da
boa cachaça, fazedores dos bons doces – rapadura, açúcar, mel. Ainda sobre
Raimundo Moreira Cesar, diga-se que também foi um empreendedor da cultura da
cana e chegou a ser Vereador da primeira legislatura da Câmara Municipal de
Esperantinópolis.
Outros canaviais se
plantaram, mais engenhos se estabeleceram e a economia da região prosperava
atraindo mais habitantes. De forma a favorecer o surgimento de um comércio
lucrativo onde o algodão, a cachaça, também o fumo de que se iniciava o
cultivo, com o açúcar davam as moedas, as medidas de uma estrutura de classes
de produção e trabalho. A lei era a da oferta e da procura, e o que mais
passasse além dessa ética, resolveriam os bons conselheiros, destes se
destacando Joaquim de Araújo Arruda, esposo de Cotinha Sá Arruda, que atuava em
meio aos conflitos e a obter reconciliações, entendimentos e o mais que
possível fosse um bom, sábio e prudente uso da palavra.
Mas o que não impedia de a
violência acontecer. Onde havia uma diversidade cultural muito grande os
entendimentos nem sempre se faziam e muitas vítimas tombaram. Vítima foi o dono
de engenho Casé Sá, sogro de Joaquim Araújo Arruda.
Casé Sá exercia a função de
Sub-Delegado e ele mesmo foi a comandar uma missão de aprisionamentos a uns
denunciados de delitos. Caso que ficou na memória-tradição do povoado como o
caso dos “três irmãos”, que resistiram à voz de prisão, negaram-lhe os pulsos
aos nós das cordas, prisão daquele tempo, ao que, desacatado, Casé Sá reagiu
com violência, e violência de ambas as partes, morrendo os “três irmãos”, que
deram nome a um arruado, e o Sub-Delegado, isto no ano de 1924.
Boa Esperança
A religião dos pioneiros de
Esperantinópolis era o catolicismo, das rezas dos nordestinos que chegavam, das
crenças dos sertanejos da Barra do Corda, da fé que os capuchinhos pregavam na
região em desobrigas anuais.
A fé e o amor na vida e na
morte. Perigo de morte que adoece e manda alguém ao Angelim comprar materiais
de que um enterro precisa, quando vem de lancha o missionário Frei Josué de Monza,a quem lhe contam de uma
vida mãe a morrer e a dias sofrendo como à espera do sacramento que só o
sacerdote tem. Pelo que atraca-se a lancha, tripulação e passageiros em terra,
é manhã bem amanhecida, e, da outra margem esquerda do rio, boca do caminho do Centro
do Boi, belo ginete espera
o frade que se embrenha na mata para salvar uma vida.
E a salva, sim, cura-a de
corpo e alma. Do corpo, com o conhecimento, e a alma, com o sacramento.
Após o que, como ao descer
da montanha a que o levou o seu ministério sagrado, olhando o povo que o
recebia, olhando a terra onde estava, disse a todos:
“Este lugar será chamado, de
agora em diante, de Boa Esperança”.
Bênçãos dadas, mãos
beijadas, dores curadas... Até breve, virá o missionário em desobriga, promessa
dada.
E assim ficou o nome por
autoridade religiosa designado. Porém o povo não se acostumou tão cedo a
pronunciá-lo, porque o Centro do Boi ficou aquém de até onde o padre foi a pôr
sua designação. Ao que, Cícero Gomes, primeiro comerciante da povoação, quis o
nome de Boa Esperança para onde sua loja se estabelecia a uns três quilômetros
do lugar de Cândido Mendes da Silva, a esse ano já falecido. E combinou com o
Gastão Maranhão, que do ponto de seu engenho para o Norte, ficava o povoado Boa
Esperança.
Dois povoados, dois nomes até que um dia o
nome da cidade, que os dois povoados fizeram, se unificaram numa unidade de
cidadania.
Terra – Espaço – Liberdade
Porque não aceitava a
ditadura que havia e o inquietava, na região de Curador, atual Presidente
Dutra, e Tuntum, onde residia, Município de Barra do Corda, Galdino Carneiro,
natural de Passagem Franca – Maranhão, e sua esposa Roberta de Souza Carneiro e
filhos veio morar em Boa Esperança, aqui chegando a 26 de dezembro de 1923.
Afastando-se dos conflitos
que grassavam na região, que tornavam inseguras as relações de trabalho, de
atuação democrática, de vida em espaço de liberdade de pensamento, expressão,
trabalho, relacionamento, Galdino Carneiro, em Boa Esperança, ofereceu-se à
solidariedade com que se construía a comunidade. Formou uma rua onde é atualmente
o bairro do Castelo Branco. O seu único filho homem, Cláudio Carneiro de Souza,
mas irmão de muitas irmãs mulheres, tornou-se líder político, comerciante, um
dos fundadores da Cidade de Esperantinópolis, pela sua fé e otimismo e espírito
de trabalho e integrou a primeira legislatura da Câmara Municipal, exercendo a
sua presidência.
Da descendência de Galdino
Carneiro, dois netos seus foram eleitos Prefeitos Municipais de
Esperantinópolis, Anísio Carneiro Corrêa e Natal Jovita Carneiro e mais um grande
número de descendentes seus tem-se destacado como profissionais qualificados,
educadores, profissionais da saúde, administradores, juristas, políticos,
artistas, escritores.
A cidade de Esperantinópolis
rende sua homenagem à memória de Galdino Carneiro erigindo-lhe um
busto-monumento na Praça central da cidade, Praça Galdino Carneiro.
LIVROS E VIOLÃO
Nas cargas de malas da
mudança havia uma mala de livros e, sob o braço, como a uma criança mimada,
trazia o violão. Sim a mudança que chegava era a de Antonio Ribeiro Lopes e os
seus filhos, dos quais a lembrança de sempre ficou, dos músicos, o pistonista
Orlando Ribeiro e a violonista Rosa de Canaã Ribeiro.
Antonio Ribeiro Lopes,
barracordense, depois de muito ter viajado, participou como extrator de latex
nos seringais da Amazônia no início do Século, vem, enfim, para ficar na terra
de Boa Esperança, dando-lhe o amor, o talento e a vida.
A cidade de Esperantinópolis,
por Decreto do Prefeito Anísio Carneiro Corrêa, homenageia-o com o nome de uma
Rua que liga o centro da cidade ao Bairro São Sebastião, a Rua Antonio Ribeiro,
de cuja memória se relata o seu pioneirismo de amante das letras, cultor da
música ao ponto de abrir sua casa para a juventude do povoado fazer um palco e
viver a experiência mágica do teatro, numa ação humanizadora pela valorização
das artes que trouxe consigo e seus filhos.
Foi comerciante de remédios.
Técnico em manipulação químico-farmacêutica de fórmulas de poções, muito
aprovadas pela população, montou uma bolandeira com tração animal para o
beneficiamento e de prensa de algodão e também dono de engenho.
Engenho que passou por
venda, posteriormente, a Gentil Carneiro Leite, o último engenho a resistir à
modernidade econômica, até o ano de 2008, quando passou a espólio em que seus
herdeiros puseram-no à venda.
A Primeira Escola
As letras de
Esperantinópolis vieram de tantos lugares, de muitas mãos, com quantas
inteligentes expressões que se juntaram, formaram nosso jeito de falar,
conversar, contar histórias, ser registro, nossas letras.
Mas, com o Professor Júlio
Melo de Albuquerque, de família ilustre de Barra do Corda, que se fez escola da
nossa língua que se falava com tantos sotaques, das diferentes regiões de onde
chegavam nossos pioneiros habitantes. Uma escola para ensinar a ler, contar,
conhecer das ciências os princípios elementares e a escrever bem.
Ainda vive, neste ano de
2010, Raimundo Jovita Carneiro que estudou na Escola do Professor Júlio Melo e
que bem ainda sabe expressar em caligrafia o que aprendeu com o devotado
educador, no seu empenho de ensino da disciplina Língua Portuguesa – leitura,
palavra, escrita e escrita com o melhor das boas caligrafias.
Era uma escola particular.
As famílias pagavam-no pelo seu serviço de docência. Ganhou a riqueza da
amizade do povo a quem servia, o apreço, a gratidão pelo bem que construía
dia-a-dia com a sua classe de alunos.
Eu exercia a função de
Secretário Municipal de Educação e tive a felicidade histórica de construir uma
escola no bairro onde também morou nosso primeiro professor e pude fazer-lhe a
homenagem de dar seu nome à Escola Municipal Júlio Melo. Pelo muito que dele
recebemos, o amor à profissão, a dedicação ao povo, o desejo constante, busca
de meios para crescer em conhecimentos através das leituras.
Júlio Melo de Albuquerque
que o encontramos em testemunhos de familiares seus, de ex-alunos em memórias
que nos dizem do seu exemplo de quem não esbarrou diante da pobreza, da
ignorância, do embrutecimento desumanizador, do isolamento, mas a conduzir
sempre um livro e a abri-lo para si e para bemensiná-lo aos outros. Seus alunos
eram crianças e jovens e também adultos.
Aliança
Em Colinas – Maranhão,
nasceuAntonio José Corrêa, onde cresceu, foi criador de gado, casou-se com a
caxiense AntoniaUmbelina Barros e, desistindo de continuar com as criações de
animais, buscou terras férteis de lavouras, vindo a habitar o povoado Tuntum,
onde conheceu e fez amizade com Galdino Carneiro.
Amizade que o trouxe para
Boa Esperança no dia 6 de janeiro de 1929, mantendo-se assim a uma boa
distância das áreas de conflitos que a década dos anos de 1920 produziu em
várias regiões maranhenses.
Homem simples, amante,
porém, do saber, buscava-o para as novas gerações, foi aliado do Professor
Júlio Melo e de outros docentes, mulheres, homens, que se dedicaram ao ensino
escolar e que deram as bases para a nossa atual educação esperantinopense.
Sua família, unindo-se em
alianças matrimoniais com a família Carneiro, deu de suas índoles pacífica,
estudiosa, otimista em sua fé, perseverante em seus trabalhos, traços de
bondade, beleza e gênio criador, do que bem se identifica o povo de Esperantinópolis.
Merece destaque entre seus
descendentes, o seu filho Rafael Corrêa Barros, político, que exerceu o cargo
de Prefeito Municipal da nossa vizinha Cidade de Poção de Pedras.
A educação de
Esperantinópolis homenageia-lhe a memória, dando-lhe o nome ao Centro de Ensino
Antonio Corrêa, importante escola da rede estadual de educação. Porque foi um
educador pelo exemplo de sua família, de seus descendentes, dos que o seguiram
na esperança que o conhecimento é capaz de construir.
Quando em Boa Esperança, a
escola somente alfabetizava, era Antonio Corrêa quem acompanhava as caravanas
de estudantes, meninas, moças de famílias, que se deslocavam para estudarem no
colégio das freiras na então distante Barra do Corda. Para, de lá, num futuro que
não foi tão distante, voltarem-nos educadoras gente da nossa gente.
Acontecimentos
Ano de
1920.
- Frei Josué de Monza, missionário
capuchinho, visita o povoado Centro do Boi, em atendimento a pessoa doente a
dar-lhe sacramentos e dá o nome ao povoado de Boa Esperança.
- O negociante Cícero Gomes instala o
primeiro estabelecimento comercial em Boa Esperança.
26 de dezembro de 1926
-
Chega em Boa Esperança Galdino Carneiro e família.
01 de fevereiro de 1927
-
Chega em Boa Esperança o Professor Júlio Melo de Albuquerque, formando a
primeira Escola.
06 de janeiro de 1929
- Chega em Boa Esperança Antonio José Corrêa
e família.
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