segunda-feira, 23 de julho de 2018

Moendas e Fusos | Capítulo II ~ Moendas


Moendas


“As cisões entre os grupos dominantes revelavam também o esclerosamento de um sistema político que se baseava formalmente em uma contradição entre o regionalismo e o presidencialismo,(...) quase sempre manifestada sob a forma de violentas lutas.”

Ananias Alves Martins
Barricadas no Palácio dos Leões
O Golpe de 1922 no Maranhão  





Havia uma crise social, política, econômica, cultural que atingia o Brasil inteiro nos anos de 1920. Inseguranças, perseguições, oligarquias, autoritarismos, injustiças praticadas em nome da Justiça, o que tirava a paz de muitas famílias que se decidiam migrar de uma região para outra, em busca de segurança e mais prosperidade.
Assim que, no caminho de Cândido Mendes da Silva outros também vieram e a se dar bem. Gente do Maranhão, sertanejos, da região do Parnaíba, de alto Itapecuru, nordestinos piauienses e pernambucanos.
Pernambucano era o empresário Casé Sá e sua família de ilustre descendência, os seus filhos Francisco Gomes de Sá e Gerson Gomes de Sá tornaram-se políticos de destacada atuação na política maranhense na segunda metade do Século XX,e a Senhora Cotinha Sá Arruda, exemplo de liderança feminina, formosa e atuante na construção da comunidade.
Casé Sá foi o iniciador da cultura da cana-de-açúcar, construindo o primeiro engenho de madeira para a moagem da cana.
Com o empreendedorismo pernambucano ajuntou-se o conhecimento dos piauienses, como assim se sobressaiu Raimundo Moreira Cesar, conhecedor da técnica de carpintaria na fabricação artesanal de engenhos de moer cana. E outros dos piauienses, destiladores da boa cachaça, fazedores dos bons doces – rapadura, açúcar, mel. Ainda sobre Raimundo Moreira Cesar, diga-se que também foi um empreendedor da cultura da cana e chegou a ser Vereador da primeira legislatura da Câmara Municipal de Esperantinópolis.
Outros canaviais se plantaram, mais engenhos se estabeleceram e a economia da região prosperava atraindo mais habitantes. De forma a favorecer o surgimento de um comércio lucrativo onde o algodão, a cachaça, também o fumo de que se iniciava o cultivo, com o açúcar davam as moedas, as medidas de uma estrutura de classes de produção e trabalho. A lei era a da oferta e da procura, e o que mais passasse além dessa ética, resolveriam os bons conselheiros, destes se destacando Joaquim de Araújo Arruda, esposo de Cotinha Sá Arruda, que atuava em meio aos conflitos e a obter reconciliações, entendimentos e o mais que possível fosse um bom, sábio e prudente uso da palavra.
Mas o que não impedia de a violência acontecer. Onde havia uma diversidade cultural muito grande os entendimentos nem sempre se faziam e muitas vítimas tombaram. Vítima foi o dono de engenho Casé Sá, sogro de Joaquim Araújo Arruda.
Casé Sá exercia a função de Sub-Delegado e ele mesmo foi a comandar uma missão de aprisionamentos a uns denunciados de delitos. Caso que ficou na memória-tradição do povoado como o caso dos “três irmãos”, que resistiram à voz de prisão, negaram-lhe os pulsos aos nós das cordas, prisão daquele tempo, ao que, desacatado, Casé Sá reagiu com violência, e violência de ambas as partes, morrendo os “três irmãos”, que deram nome a um arruado, e o Sub-Delegado, isto no ano de 1924.





Boa Esperança


A religião dos pioneiros de Esperantinópolis era o catolicismo, das rezas dos nordestinos que chegavam, das crenças dos sertanejos da Barra do Corda, da fé que os capuchinhos pregavam na região em desobrigas anuais.
A fé e o amor na vida e na morte. Perigo de morte que adoece e manda alguém ao Angelim comprar materiais de que um enterro precisa, quando vem de lancha o missionário Frei Josué de Monza,a quem lhe contam de uma vida mãe a morrer e a dias sofrendo como à espera do sacramento que só o sacerdote tem. Pelo que atraca-se a lancha, tripulação e passageiros em terra, é manhã bem amanhecida, e, da outra margem esquerda do rio, boca do caminho do Centro do Boi, belo ginete espera o frade que se embrenha na mata para salvar uma vida.
E a salva, sim, cura-a de corpo e alma. Do corpo, com o conhecimento, e a alma, com o sacramento.
Após o que, como ao descer da montanha a que o levou o seu ministério sagrado, olhando o povo que o recebia, olhando a terra onde estava, disse a todos:
“Este lugar será chamado, de agora em diante, de Boa Esperança”.
Bênçãos dadas, mãos beijadas, dores curadas... Até breve, virá o missionário em desobriga, promessa dada.
E assim ficou o nome por autoridade religiosa designado. Porém o povo não se acostumou tão cedo a pronunciá-lo, porque o Centro do Boi ficou aquém de até onde o padre foi a pôr sua designação. Ao que, Cícero Gomes, primeiro comerciante da povoação, quis o nome de Boa Esperança para onde sua loja se estabelecia a uns três quilômetros do lugar de Cândido Mendes da Silva, a esse ano já falecido. E combinou com o Gastão Maranhão, que do ponto de seu engenho para o Norte, ficava o povoado Boa Esperança.
Dois povoados, dois nomes até que um dia o nome da cidade, que os dois povoados fizeram, se unificaram numa unidade de cidadania.





Terra – Espaço – Liberdade


Porque não aceitava a ditadura que havia e o inquietava, na região de Curador, atual Presidente Dutra, e Tuntum, onde residia, Município de Barra do Corda, Galdino Carneiro, natural de Passagem Franca – Maranhão, e sua esposa Roberta de Souza Carneiro e filhos veio morar em Boa Esperança, aqui chegando a 26 de dezembro de 1923.
Afastando-se dos conflitos que grassavam na região, que tornavam inseguras as relações de trabalho, de atuação democrática, de vida em espaço de liberdade de pensamento, expressão, trabalho, relacionamento, Galdino Carneiro, em Boa Esperança, ofereceu-se à solidariedade com que se construía a comunidade. Formou uma rua onde é atualmente o bairro do Castelo Branco. O seu único filho homem, Cláudio Carneiro de Souza, mas irmão de muitas irmãs mulheres, tornou-se líder político, comerciante, um dos fundadores da Cidade de Esperantinópolis, pela sua fé e otimismo e espírito de trabalho e integrou a primeira legislatura da Câmara Municipal, exercendo a sua presidência.
Da descendência de Galdino Carneiro, dois netos seus foram eleitos Prefeitos Municipais de Esperantinópolis, Anísio Carneiro Corrêa e Natal Jovita Carneiro e mais um grande número de descendentes seus tem-se destacado como profissionais qualificados, educadores, profissionais da saúde, administradores, juristas, políticos, artistas, escritores.
A cidade de Esperantinópolis rende sua homenagem à memória de Galdino Carneiro erigindo-lhe um busto-monumento na Praça central da cidade, Praça Galdino Carneiro.









LIVROS E VIOLÃO


Nas cargas de malas da mudança havia uma mala de livros e, sob o braço, como a uma criança mimada, trazia o violão. Sim a mudança que chegava era a de Antonio Ribeiro Lopes e os seus filhos, dos quais a lembrança de sempre ficou, dos músicos, o pistonista Orlando Ribeiro e a violonista Rosa de Canaã Ribeiro.
Antonio Ribeiro Lopes, barracordense, depois de muito ter viajado, participou como extrator de latex nos seringais da Amazônia no início do Século, vem, enfim, para ficar na terra de Boa Esperança, dando-lhe o amor, o talento e a vida.
A cidade de Esperantinópolis, por Decreto do Prefeito Anísio Carneiro Corrêa, homenageia-o com o nome de uma Rua que liga o centro da cidade ao Bairro São Sebastião, a Rua Antonio Ribeiro, de cuja memória se relata o seu pioneirismo de amante das letras, cultor da música ao ponto de abrir sua casa para a juventude do povoado fazer um palco e viver a experiência mágica do teatro, numa ação humanizadora pela valorização das artes que trouxe consigo e seus filhos.
Foi comerciante de remédios. Técnico em manipulação químico-farmacêutica de fórmulas de poções, muito aprovadas pela população, montou uma bolandeira com tração animal para o beneficiamento e de prensa de algodão e também dono de engenho.
Engenho que passou por venda, posteriormente, a Gentil Carneiro Leite, o último engenho a resistir à modernidade econômica, até o ano de 2008, quando passou a espólio em que seus herdeiros puseram-no à venda.











A Primeira Escola


As letras de Esperantinópolis vieram de tantos lugares, de muitas mãos, com quantas inteligentes expressões que se juntaram, formaram nosso jeito de falar, conversar, contar histórias, ser registro, nossas letras.
Mas, com o Professor Júlio Melo de Albuquerque, de família ilustre de Barra do Corda, que se fez escola da nossa língua que se falava com tantos sotaques, das diferentes regiões de onde chegavam nossos pioneiros habitantes. Uma escola para ensinar a ler, contar, conhecer das ciências os princípios elementares e a escrever bem.
Ainda vive, neste ano de 2010, Raimundo Jovita Carneiro que estudou na Escola do Professor Júlio Melo e que bem ainda sabe expressar em caligrafia o que aprendeu com o devotado educador, no seu empenho de ensino da disciplina Língua Portuguesa – leitura, palavra, escrita e escrita com o melhor das boas caligrafias.
Era uma escola particular. As famílias pagavam-no pelo seu serviço de docência. Ganhou a riqueza da amizade do povo a quem servia, o apreço, a gratidão pelo bem que construía dia-a-dia com a sua classe de alunos.
Eu exercia a função de Secretário Municipal de Educação e tive a felicidade histórica de construir uma escola no bairro onde também morou nosso primeiro professor e pude fazer-lhe a homenagem de dar seu nome à Escola Municipal Júlio Melo. Pelo muito que dele recebemos, o amor à profissão, a dedicação ao povo, o desejo constante, busca de meios para crescer em conhecimentos através das leituras.
Júlio Melo de Albuquerque que o encontramos em testemunhos de familiares seus, de ex-alunos em memórias que nos dizem do seu exemplo de quem não esbarrou diante da pobreza, da ignorância, do embrutecimento desumanizador, do isolamento, mas a conduzir sempre um livro e a abri-lo para si e para bemensiná-lo aos outros. Seus alunos eram crianças e jovens e também adultos.




Aliança


Em Colinas – Maranhão, nasceuAntonio José Corrêa, onde cresceu, foi criador de gado, casou-se com a caxiense AntoniaUmbelina Barros e, desistindo de continuar com as criações de animais, buscou terras férteis de lavouras, vindo a habitar o povoado Tuntum, onde conheceu e fez amizade com Galdino Carneiro.
Amizade que o trouxe para Boa Esperança no dia 6 de janeiro de 1929, mantendo-se assim a uma boa distância das áreas de conflitos que a década dos anos de 1920 produziu em várias regiões maranhenses.
Homem simples, amante, porém, do saber, buscava-o para as novas gerações, foi aliado do Professor Júlio Melo e de outros docentes, mulheres, homens, que se dedicaram ao ensino escolar e que deram as bases para a nossa atual educação esperantinopense.
Sua família, unindo-se em alianças matrimoniais com a família Carneiro, deu de suas índoles pacífica, estudiosa, otimista em sua fé, perseverante em seus trabalhos, traços de bondade, beleza e gênio criador, do que bem se identifica o povo de Esperantinópolis.
Merece destaque entre seus descendentes, o seu filho Rafael Corrêa Barros, político, que exerceu o cargo de Prefeito Municipal da nossa vizinha Cidade de Poção de Pedras.
A educação de Esperantinópolis homenageia-lhe a memória, dando-lhe o nome ao Centro de Ensino Antonio Corrêa, importante escola da rede estadual de educação. Porque foi um educador pelo exemplo de sua família, de seus descendentes, dos que o seguiram na esperança que o conhecimento é capaz de construir.
Quando em Boa Esperança, a escola somente alfabetizava, era Antonio Corrêa quem acompanhava as caravanas de estudantes, meninas, moças de famílias, que se deslocavam para estudarem no colégio das freiras na então distante Barra do Corda. Para, de lá, num futuro que não foi tão distante, voltarem-nos educadoras gente da nossa gente.




 Acontecimentos

 Ano de 1920.

- Frei Josué de Monza, missionário capuchinho, visita o povoado Centro do Boi, em atendimento a pessoa doente a dar-lhe sacramentos e dá o nome ao povoado de Boa Esperança.
- O negociante Cícero Gomes instala o primeiro estabelecimento comercial em Boa Esperança.

26 de dezembro de 1926
- Chega em Boa Esperança Galdino Carneiro e família.

01 de fevereiro de 1927
- Chega em Boa Esperança o Professor Júlio Melo de Albuquerque, formando a primeira Escola.

  06 de janeiro de 1929
- Chega em Boa Esperança Antonio José Corrêa e família.


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