segunda-feira, 23 de julho de 2018

Moendas e Fusos | Capítulo III ~ A Revolução de 1930


A Revolução de 1930


“No Maranhão, o movimento revolucionário de 30, com a implantação da República Nova, foi visto pelos que apoiavam sua ideologia como acontecimento que veio ‘salvar’ o Brasil da situação de penúria em que se encontrava.”

Maria Regina Nina Rodrigues
Maranhão, do Europeísmo ao Nacionalismo
Político e Educação





  

Foi o mascate AntonioBonlugar que trouxe o romance de cordel que narrava o feito vitorioso de Getúlio Vargas, chegando ao poder pela Revolução de 1930.
Bonito de se ler, de um poeta popular anônimo tentando falar da ideologia que orientou o movimento revolucionário. Em Barra do Corda, no entanto, houve resistências comandadas por lideres populares, conservadores do antigo regime.
Foi necessário que subisse de São Luís à cidade sertaneja o Tenente Natal Teixeira Mendes para coordenar o poder revolucionário e pacificar os ânimos. O que realizou, reunindo-se com lideranças da cidade e do interior. De Boa Esperança recebeu comitiva de cidadãos.
O Prefeito Tenente Natal, como a cidade o chamou e o aceitou como líder, recebeu, os de Boa Esperança, nomeando os senhores Joaquim de Araújo Arruda, para o cargo de Sub-Delegado, e Manoel Monteiro da Silva, para o cargo de Fiscal a arrecadar os impostos para o erário público. Quem mais nesta comitiva estava, citam-se Gastão Maranhão, Isaac Varão, Ângelo Marinho, apelido Anjo Calafate, Sebastião Rego, os jovens Severino Corrêa, e Cláudio Carneiro e o senhor Anacleto Guimarães.
Por essa data, de que não se achou registro, quem dela participou não soube dizer a data, porém reconstituída em detalhes de alegria, de boa receptividade, contaram-me o meu pai e o meu vizinho Anacleto Guimarães, e do que Galeno Brandes registrou em seu importante livro, Barra do Corda na História do Maranhão, que Boa Esperança tornou-se, com mais outros três povoados – Tuntum, Curador e São José das Canas – os quatro mais importantes do Município, numa antevisão do que ocorreria, as formações e emancipações de quatro municípios – Esperantinópolis, Tuntum, Presidente Dutra e Joselândia, respectivamente as denominações de novas cidades filhas da cidade mãe Barra do Corda.






Raízes


Os padres capuchinhos em desobrigas na região do Médio Mearim, trouxeram a Boa Esperança a mensagem de uma santa que o Papa Pio XI deu-lhe o título de “Estrela do seu Pontificado”, a francesa carmelita Teresa de Lisieux, Santa Teresinha do Menino Jesus.
Bem recebida, uma imagem muito bonita, um sorriso do céu e do Papa, tornou-se a padroeira do povoado que, liderado por Gastão Maranhão e sua esposa Dalila Chaves Maranhão, pôs-se em mutirão a construir a capela que ficava onde é, atualmente, a Praça Santa Teresinha, no bairro que tem o seu nome.
O culto católico em formas de novenas, ladainhas, cantos tornou-se espaço onde se desenvolveu uma arte religiosa aprendida na catequese dos capuchinhos, porém, adquirindo estilo próprio da originalidade característica de que se fazia a cultura a que chegou neste Século XXI,a cultura de Esperantinópolis.
Foi, também, por essa mesma época, que chegou em Boa Esperança o missionário Pastor Crente da Igreja Assembléia de Deus, de quem não se guardou o nome, procedência, tempo de permanência. Porém, sua palavra foi semente que germinou, fez-se de conversões de várias famílias e, daí para cá, nunca mais faltou crentes evangélicos a participar da vida sócio-religiosa da Cidade de Esperantinópolis.
Por outro lado, faltou o espaço-terra-liberdade religiosa para os cultos afro-brasileiros. Havia uma eterna perseguição policial que impediu de alguém tocar o seu terecô, cantar o rito de seus orixás. Prisões, torturas, desterros eram práticas com que a sociedade reprimia o que consideravam “feitiçarias”, os cultos da umbanda e de outros dos ritos afro-americano-brasileiros.
Mesmo violentamente discriminada, a religião dos negros, dos índios, numa síntese litúrgica e de doutrina bem brasileira, resistiu, sobreviveu e vive com o seu direito constitucional de liberdade religiosa, mas ainda como a caminho para a sua plena expressão a formar-se em seus terreiros de festa, de dança, de alegria de fé bem brasileira.





O Verdun


Um nome francês para o lugar de uma usina de beneficiamento de algodão, no Médio rio Mearim. Acima do Angelim, em cima de um monte com declive que chega ao rio e onde tudo é floresta. Verdun! Da Cotoniere do Brasil Ltda., grupo industrial e comercial francês que no Maranhão se implantava a comercializar a produção algodoeira que os vales dos nossos rios, principalmente o rio Mearim, produzia em grandes safras.
Verdun, ponto onde a economia da região se abria por caminhos que se encontravam nas roças, nos povoados e por onde o comércio se fazia por tropas que levavam o algodão à usina e retornavam com a mercadoria, a moeda, a alegria da prosperidade que se prometia a cada transação.
Verdun, da Cotoniere, onde um posto de telefone se instalou, facilidade de comunicação, para onde muitos trabalhadores se mudaram e foi um fator positivo para o desenvolvimento do povoado de Boa Esperança. Porque, da margem esquerda do rio, dez quilômetros de distância, um porto de condições muito melhores para o embarque e o desembarque do algodão e de mercadorias. Trouxe-nos vantagens, como a abertura de estradas que a empresa facilitava e possibilitou vindas de pessoas de elevados graus de instrução que influenciaram em muito o desenvolvimento cultural, político, econômico. Os nossos dois primeiros Prefeitos eleitos vieram de Verdun, Genésio Carvalho Serra e Osiel Miranda.
Em visita recente ao galpão ruína da antiga usina de Verdun, toquei com carinho as portas imensas de cedro que o carpinteiro Severino Corrêa Silva, o meu pai, disse-me que foi ele um dos operários que as fizeram.
Porém, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Cotoniere fechou, seus sócios tiveram que voltar à França e, no pós-guerra, venderam-na ao grupo maranhense Chames Aboude Cia. Ltda., que reorganizou, reanimou o patrimônio existente numa ação empresarial que, por mais de dez anos, influenciou positivamente a economia do médio Mearim, através de uma rede de filiais de compra, beneficiamento e transporte de algodão.






Face do Estado Novo


Face do Estado Novo, como se viu a ditadura getulista em Boa Esperança. Ainda nos anos de 1980, perguntei a muitos dos que me passavam suas memórias, mas ninguém soube me dizer quase nada.
Justifica essa falta de informação o que disse Galeno Edgar Brandes em seu livro Barra do Corda na História do Maranhão: “O golpe desferido por Getúlio Vargas no Brasil, com o nome de Estado Novo, a partir de 10 de novembro de 1937, pouca repercussão tivera no Maranhão”. A política entrou em recesso, como a dizer o modo popular: “enfiou a viola no saco”.
A viola, poder de discussão, debate. Seu Anacleto Guimarães contou-me que chegou a hospedar um homem, sujeito novo, bem afeiçoado, boas linguagens, mas de saco às costas e pobre que nem uma rede tinha para dormir. Seu Anacleto deu-lhe rancho uma noite e cinco dias depois, apareceram soldados vindos de Barra do Corda à procura de um sujeito que escrevia panfletos e os jogava nas ruas altas horas da noite e nesses panfletos falava mal, muito mal, do novo governo do Presidente.
A propaganda do governo, no entanto, chegava, sim e, um dos meios de chegar até aos mais longínquos rincões, era a música. A música popular, a poesia cantada nos hinos de exaltação da pátria, hinos que eu mesmo aprendi com meus irmãos mais velhos e pelos livros, as cartilhas e o parnasianismo persistente de nossos escritores maranhenses adeptos do governo que escreviam nos jornais de São Luís que, ainda com semanas de atraso, assim chegavam ás mãos de comerciantes, que os expunham em seus balcões, também para os fregueses que soubessem ler.
O jornal que mais se lia em Boa Esperança era O Norte, de Barra do Corda também, as folhas de São Luís à época. O rio Mearim, com sua tranquila e encantadora corrente a abrirem-se às proas das lanchas que o venciam sertão acima, continuava a dar a energia econômica da região integrada ao litoral, á capital do estado. Havia o Correio e o Telégrafo. Linha desde 1903, fazia chegar a Barra do Corda a comunicação com rapidez de unidade nacional.
E a face mesmo do Estado novo, era o retrato de Getúlio Vargas. Por força da propaganda ideológica tão intensamente comunicada, “o retrato do velhinho” em marcha carnavalesca cantada em carnavais, ganhava estatus de imagem religiosa no altar dos varguistas que o chamavam de “o pai dos pobres”.




Povoados


Povoava-se a região onde Boa Esperança convergia caminhos de interesses econômicos, sociais, culturais.
Caminhos de centros de lavouras onde a mata era derrubada para as aberturas de roças e onde se formavam novos povoados. Como o Bom Princípio, de Antonio Vieira; o Jiquiri, dos Sertanejo, Bezerra e os Pereira da Silva; o São Roberto, de Antonio Mendes; o São Raimundo, do Doca Bezerra; o Palmeiral... Tantos, localizados mais próximos do rio, outros no bem distante interior da mata, mas numa soma de trabalhos, de interesses, de produção gerando riquezas e importâncias de um território que tinha em Boa Esperança o centro.
Assim é que mais nordestinos chegavam, sertanejos maranhenses, também. Cada um, um sonho, uma força, uma idéia boa a começar a construção que se chegaria a ser o Município de Esperantinópolis.
Boa Esperança foi um ponto, assim, de chegada e de partida. De chegada, da Professora Maria Thomazia Mendes onde trabalhou o seu sonho de mestra com a infância que nascia e para crescer no saber ler, escrever, contar, participar da história que uma escola inicia com o nome de Escola Sete de Setembro.
Tempo em que as tropas piauienses adentravam as matas com o alho, a cebola, a rapadura, o fumo... Vinham os tropeiros, vendiam as cargas, vendiam os animais. Alguns tropeiros também ficavam, como o João Mariano dos Santos, dentre os muitos piauienses que deram suas contribuições ao carregar safras produzidas, trazer mercadorias, ensinar as artes de ser, proceder de tropeiro, como aquele a conduzir o bem, os bens a formar o patrimônio da vida, do progresso da comunidade social.









Acontecimentos


20 de fevereiro de 1935
- Chega em Boa Esperança a Professora Maria Thomázia Mendes, com esposo e filhos, oferecendo grandes contribuições à educação, à cultura, e que, segundo registro obtido no livro de Galeno Edgar Brandes, “Barra do Corda na História do Maranhão”, (p.363) foi a primeira professora nomeada da escola pública em Boa Esperança, no ano de 1940.

1º de novembro de 1935
-Celebra-se a primeira missa do festejo de Santa Teresinha do Menino Jesus, na capela recém construída.

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