A Revolução de 1930
“No Maranhão, o movimento revolucionário de 30, com a
implantação da República Nova, foi visto pelos que apoiavam sua ideologia como
acontecimento que veio ‘salvar’ o Brasil da situação de penúria em que se
encontrava.”
Maria Regina Nina Rodrigues
Maranhão, do Europeísmo ao Nacionalismo
Político e Educação
Foi o mascate
AntonioBonlugar que trouxe o romance de cordel que narrava o feito vitorioso de
Getúlio Vargas, chegando ao poder pela Revolução de 1930.
Bonito de se ler, de um
poeta popular anônimo tentando falar da ideologia que orientou o movimento
revolucionário. Em Barra do Corda, no entanto, houve resistências comandadas
por lideres populares, conservadores do antigo regime.
Foi necessário que subisse
de São Luís à cidade sertaneja o Tenente Natal Teixeira Mendes para coordenar o
poder revolucionário e pacificar os ânimos. O que realizou, reunindo-se com
lideranças da cidade e do interior. De Boa Esperança recebeu comitiva de
cidadãos.
O Prefeito Tenente Natal,
como a cidade o chamou e o aceitou como líder, recebeu, os de Boa Esperança,
nomeando os senhores Joaquim de Araújo Arruda, para o cargo de Sub-Delegado, e
Manoel Monteiro da Silva, para o cargo de Fiscal a arrecadar os impostos para o
erário público. Quem mais
nesta comitiva estava, citam-se Gastão Maranhão, Isaac Varão, Ângelo Marinho,
apelido Anjo Calafate, Sebastião Rego, os jovens Severino Corrêa, e Cláudio
Carneiro e o senhor Anacleto Guimarães.
Por essa data, de que não se
achou registro, quem dela participou não soube dizer a data, porém
reconstituída em detalhes de alegria, de boa receptividade, contaram-me o meu
pai e o meu vizinho Anacleto Guimarães, e do que Galeno Brandes registrou em
seu importante livro, Barra do Corda na História do Maranhão, que Boa Esperança
tornou-se, com mais outros três povoados – Tuntum, Curador e São José das Canas
– os quatro mais importantes do Município, numa antevisão do que ocorreria, as
formações e emancipações de quatro municípios – Esperantinópolis, Tuntum,
Presidente Dutra e Joselândia, respectivamente as denominações de novas cidades
filhas da cidade mãe Barra do Corda.
Raízes
Os padres capuchinhos em
desobrigas na região do Médio Mearim, trouxeram a Boa Esperança a mensagem de
uma santa que o Papa Pio XI deu-lhe o título de “Estrela do seu Pontificado”, a
francesa carmelita Teresa de Lisieux, Santa Teresinha do Menino Jesus.
Bem recebida, uma imagem
muito bonita, um sorriso do céu e do Papa, tornou-se a padroeira do povoado
que, liderado por Gastão Maranhão e sua esposa Dalila Chaves Maranhão, pôs-se
em mutirão a construir a capela que ficava onde é, atualmente, a Praça Santa
Teresinha, no bairro que tem o seu nome.
O culto católico em formas
de novenas, ladainhas, cantos tornou-se espaço onde se desenvolveu uma arte
religiosa aprendida na catequese dos capuchinhos, porém, adquirindo estilo próprio
da originalidade característica de que se fazia a cultura a que chegou neste
Século XXI,a cultura de Esperantinópolis.
Foi, também, por essa mesma
época, que chegou em Boa Esperança o missionário Pastor Crente da Igreja
Assembléia de Deus, de quem não se guardou o nome, procedência, tempo de
permanência. Porém, sua palavra foi semente que germinou, fez-se de conversões
de várias famílias e, daí para cá, nunca mais faltou crentes evangélicos a
participar da vida sócio-religiosa da Cidade de Esperantinópolis.
Por outro lado, faltou o
espaço-terra-liberdade religiosa para os cultos afro-brasileiros. Havia uma
eterna perseguição policial que impediu de alguém tocar o seu terecô, cantar o
rito de seus orixás. Prisões, torturas, desterros eram práticas com que a
sociedade reprimia o que consideravam “feitiçarias”, os cultos da umbanda e de
outros dos ritos afro-americano-brasileiros.
Mesmo violentamente
discriminada, a religião dos negros, dos índios, numa síntese litúrgica e de
doutrina bem brasileira, resistiu, sobreviveu e vive com o seu direito
constitucional de liberdade religiosa, mas ainda como a caminho para a sua
plena expressão a formar-se em seus terreiros de festa, de dança, de alegria de
fé bem brasileira.
O Verdun
Um nome francês para o lugar
de uma usina de beneficiamento de algodão, no Médio rio Mearim. Acima do Angelim,
em cima de um monte com declive que chega ao rio e onde tudo é floresta.
Verdun! Da Cotoniere do Brasil Ltda., grupo industrial e comercial francês que
no Maranhão se implantava a comercializar a produção algodoeira que os vales
dos nossos rios, principalmente o rio Mearim, produzia em grandes safras.
Verdun, ponto onde a
economia da região se abria por caminhos que se encontravam nas roças, nos povoados
e por onde o comércio se fazia por tropas que levavam o algodão à usina e
retornavam com a mercadoria, a moeda, a alegria da prosperidade que se prometia
a cada transação.
Verdun, da Cotoniere, onde
um posto de telefone se instalou, facilidade de comunicação, para onde muitos
trabalhadores se mudaram e foi um fator positivo para o desenvolvimento do
povoado de Boa Esperança. Porque, da margem esquerda do rio, dez quilômetros de
distância, um porto de condições muito melhores para o embarque e o desembarque
do algodão e de mercadorias. Trouxe-nos vantagens, como a abertura de estradas
que a empresa facilitava e possibilitou vindas de pessoas de elevados graus de instrução que
influenciaram em muito o desenvolvimento
cultural, político, econômico. Os nossos dois primeiros Prefeitos eleitos vieram
de Verdun, Genésio Carvalho Serra e Osiel Miranda.
Em visita recente ao galpão
ruína da antiga usina de Verdun, toquei com carinho as portas imensas de cedro
que o carpinteiro Severino Corrêa Silva, o meu pai, disse-me que foi ele um dos
operários que as fizeram.
Porém, com a eclosão da
Segunda Guerra Mundial, a Cotoniere fechou, seus sócios tiveram que voltar à
França e, no pós-guerra, venderam-na ao grupo maranhense Chames Aboude Cia. Ltda., que
reorganizou, reanimou o patrimônio existente numa ação empresarial que, por
mais de dez anos, influenciou positivamente a economia do médio Mearim, através
de uma rede de filiais de compra, beneficiamento e transporte de algodão.
Face do Estado Novo
Face do Estado Novo, como se
viu a ditadura getulista em Boa Esperança. Ainda nos anos de 1980, perguntei a
muitos dos que me passavam suas memórias, mas ninguém soube me dizer quase
nada.
Justifica essa falta de informação
o que disse Galeno Edgar Brandes em seu livro Barra do Corda na História do
Maranhão: “O golpe desferido por Getúlio Vargas no Brasil, com o nome de Estado
Novo, a partir de 10 de novembro de 1937, pouca repercussão tivera no
Maranhão”. A política entrou em recesso, como a dizer o modo popular: “enfiou a
viola no saco”.
A viola, poder de discussão,
debate. Seu Anacleto Guimarães contou-me que chegou a hospedar um homem,
sujeito novo, bem afeiçoado, boas linguagens, mas de saco às costas e pobre que
nem uma rede tinha para dormir. Seu Anacleto deu-lhe rancho uma noite e cinco
dias depois, apareceram soldados vindos de Barra do Corda à procura de um
sujeito que escrevia panfletos e os jogava nas ruas altas horas da noite e nesses
panfletos falava mal, muito mal, do novo governo do Presidente.
A propaganda do governo, no
entanto, chegava, sim e, um dos meios de chegar até aos mais longínquos
rincões, era a música. A música popular, a poesia cantada nos hinos de
exaltação da pátria, hinos que eu mesmo aprendi com meus irmãos mais velhos e
pelos livros, as cartilhas e o parnasianismo persistente de nossos escritores
maranhenses adeptos do governo que escreviam nos jornais de São Luís que, ainda
com semanas de atraso, assim chegavam ás mãos de comerciantes, que os expunham
em seus balcões, também para os fregueses que soubessem ler.
O jornal que mais se lia em
Boa Esperança era O Norte, de Barra do Corda também, as folhas de São Luís à
época. O rio Mearim, com sua tranquila e encantadora corrente a abrirem-se às
proas das lanchas que o venciam sertão acima, continuava a dar a energia
econômica da região integrada ao litoral, á capital do estado. Havia o Correio
e o Telégrafo. Linha desde 1903, fazia chegar a Barra do Corda a comunicação
com rapidez de unidade nacional.
E a face mesmo do Estado
novo, era o retrato de Getúlio Vargas. Por força da propaganda ideológica tão
intensamente comunicada, “o retrato do velhinho” em marcha carnavalesca cantada
em carnavais, ganhava estatus de imagem religiosa no altar dos varguistas que o
chamavam de “o pai dos pobres”.
Povoados
Povoava-se a região onde Boa
Esperança convergia caminhos de interesses econômicos, sociais, culturais.
Caminhos de centros de
lavouras onde a mata era derrubada para as aberturas de roças e onde se
formavam novos povoados. Como o Bom Princípio, de Antonio Vieira; o Jiquiri,
dos Sertanejo, Bezerra e os Pereira da Silva; o São Roberto, de Antonio Mendes;
o São Raimundo, do Doca Bezerra; o Palmeiral... Tantos, localizados mais
próximos do rio, outros no bem distante interior da mata, mas numa soma de
trabalhos, de interesses, de produção gerando riquezas e importâncias de um
território que tinha em Boa Esperança o centro.
Assim é que mais nordestinos
chegavam, sertanejos maranhenses, também. Cada um, um sonho, uma força, uma
idéia boa a começar a construção que se chegaria a ser o Município de
Esperantinópolis.
Boa Esperança foi um ponto,
assim, de chegada e de partida. De chegada, da Professora Maria Thomazia Mendes
onde trabalhou o seu sonho de mestra com a infância que nascia e para crescer
no saber ler, escrever, contar, participar da história que uma escola inicia
com o nome de Escola Sete de Setembro.
Tempo em que as tropas
piauienses adentravam as matas com o alho, a cebola, a rapadura, o fumo...
Vinham os tropeiros, vendiam as cargas, vendiam os animais. Alguns tropeiros
também ficavam, como o João Mariano dos Santos, dentre os muitos piauienses que
deram suas contribuições ao carregar safras produzidas, trazer mercadorias,
ensinar as artes de ser, proceder de tropeiro, como aquele a conduzir o bem, os
bens a formar o patrimônio da vida, do progresso da comunidade social.
Acontecimentos
20 de fevereiro de 1935
- Chega em Boa Esperança a
Professora Maria Thomázia Mendes, com esposo e filhos, oferecendo grandes
contribuições à educação, à cultura, e que, segundo registro obtido no livro de
Galeno Edgar Brandes, “Barra do Corda na História do Maranhão”, (p.363) foi a
primeira professora nomeada da escola pública em Boa Esperança, no ano de 1940.
1º de novembro de 1935
-Celebra-se a primeira missa
do festejo de Santa Teresinha do Menino Jesus, na capela recém construída.
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